Qual a prancha de SUPFOIL ideal pro downwind? 2023 foi definitivamente o ano do supfoil downwind, com quebras de recorde em distâncias percorridas, 60 atletas de 12 países em competição na França e a consagração da modalidade no centro das atenções do Molokai2Oahu, considerada a copa do mundo do downwind.
Além do lançamento dos primeiros foils dedicados para downwind, eu diria que o principal fator que impulsionou a difusão do esporte esse ano foi a rápida evolução das pranchas de supfoil voltadas para o downwind (downwind boards), que proporcionaram a entrada de pessoas “normais” nessa vertente que desde sua invenção pelo waterman Kai Lenny em 2016 (ao cruzar um canal adaptando um foil embaixo de seu sup race Naish) era considerada de elite, sendo praticada apenas por um grupo seleto de atletas de alto nível com habilidades necessárias para usar os equipamentos disponíveis até então.
A grande virada do esporte se iniciou com os protótipos de pranchas inicialmente projetadas pela lenda havaiana Dave Kalama pensando inicialmente em tornar realidade o prone foil downwind em águas oceânicas (subindo na remada deitado ou de joelhos). Para isso, ele se inspirou no conceito e na eficiência hidrodinâmica das canoas polinésias e OCs para adaptar as pranchas usadas até então, sendo considerado o pioneiro no design e construção das pranchas, batizadas de Barracudas, que se tornaram sinônimo das downwind boards modernas e hoje usadas como referência por praticamente todas as marcas e shapers mundo afora.
A principal inovação da Barracuda foi introduzir diferentes conceitos náuticos em uma prancha priorizando a decolagem do foil, uma vez que a parte mais crítica e desafiadora do downwind foil é gerar aceleração suficiente para sair da água. Entre os vários elementos que dão eficiência no deslize nessa prancha, os principais são o comprimento e largura. Enquanto ele e seus parceiros em Maui mantinham em segredo as dimensões reais dos protótipos e divulgados ironicamente nas redes sociais (a famosa 5’5 x 30”) até sua entrada em produção comercial, hoje se consolidou em 3 tamanhos padrão (7’8 x 18.5” em 92L; 7’10 x 19.5” em 102L e 8’ x 21” em 112L).
Mas o que faz dessas dimensões serem ideais pro downwind e como elas afetam a remada e a decolagem? Diferente das downwind boards tradicionais (sem foil), o foco é aumentar o glide da prancha na água maximizando sua eficiência, porém abrindo mão do conforto e estabilidade buscada principalmente pelo remador iniciante. Assim, quanto mais comprida, maior a linha d’água (distribuição do atrito longitudinal ao longo da prancha) fazendo com que a prancha deslize em linha reta. O mesmo se aplica ao reduzir sua largura, diminuindo drasticamente o atrito na transversal de maneira semelhante à eficiência dos surfski.
A uma primeira vista essas pranchas causam estranheza ao parecerem extremamente instáveis lateralmente e difíceis de se equilibrar em pé por serem estreitas. No entanto, na prática se demonstraram estáveis o suficiente para manter a remada em linha reta e velozes na água para subir com relativa facilidade em qualquer condição (inclusive no flat).
Assim, esse conceito foi amplamente difundido no meio do downwind, quebrando o tabu de que uma prancha precisa ser larga para ser estável na água, servindo como referência (e bastante copiado também) para que cada vez mais novos adeptos iniciassem no esporte mesmo sem habilidade ou experiência prévia no remo.
Portanto, ao buscar uma prancha para o supfoil downwind, recomendaria priorizar o comprimento e pouca largura para facilitar o aprendizado e evolução (preferencialmente em torno de 8’ e não menos que 7’) e estreita (não mais que 20” de meio).
Assim como o remo, não há uma receita de bolo definitiva para o tamanho e litragem ideal da primeira prancha. Depende da experiência no remo e, principalmente, de quanto cada um está disposto a abrir mão inicialmente da estabilidade e conforto para aprender a remar em uma prancha mais difícil inicialmente de se equilibrar, porém posteriormente mais fácil de decolar.
Lembrando que quanto mais comprida e estreita, mais fácil tende a ser a decolagem. Assim, ao iniciar com uma prancha mais larga priorizando a estabilidade e conforto na água, terá necessariamente como tradeoff o arrasto que irá dificultar o start.
O volume da prancha influencia apenas na flutuação e requer apenas o mínimo de litragem para ter estabilidade sem afundar as extremidades e o máximo para não sobrar muita prancha fora da água, causando instabilidade. Recomenda-se, portanto, iniciar com aproximadamente 30 litros acima do peso em kg (para 80kg uma prancha de 110L).
Lembrando que, tão importante quando as dimensões e litragem, o projeto da prancha requer que o volume seja distribuído de maneira adequada e suficiente que não afunde o bico nem a rabeta durante a remada. Por isso é essencial que a prancha seja projetada e construída por um shaper experiente nessa modalidade que considere também outros elementos que irão refletir consideravelmente na estabilidade e eficiência de deslize em favor do praticante.
Em 2023 esse conceito e modalidade de prancha saiu do Havaí e foi disseminado mundialmente com diversos modelos lançados comercialmente suas primeiras versões pelas marcas tradicionais de SUP e Wingfoil (armstrong, axis, starboard, naish, duotone, etc), que vislumbraram como ferramenta para proporcionar a decolagem em condições de velejo em ventos fracos que anteriormente tinham que ser compensadas com o tamanho maior da vela. Por esse motivo, o supfoil downwind tende a ganhar ainda mais projeção em 2024 devido a esse “efeito colateral” da popularização das downwind boards usadas também no lightwind wingfoil, modalidade já bem consolidada. Agora só falta o SUPFOIL DOWNWIND ganhar novos praticantes no Brasil dispostos a investirem nesse esporte que tem no Ceará uma verdadeira pista de testes para sua popularização por aqui. Que venham bons ventos em 2024 e boas remadas!