Domingo, Abril 28, 2024
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Mestre do Mar – Perigos escondidos

Quando saímos para remar, seja para alto mar, para uma prova, uma aula ou mesmo um simples passeio, estamos sujeitos a encontrarmos inúmeros obstáculos pelo nosso caminho.

Algumas vezes esses obstáculos estão visíveis outras não. Algumas vezes esses obstáculos são tangíveis, e outras não.

E muito comum vermos uma pessoa local passar por um lugar especifico e quando tentamos o mesmo pensamos:  “Como ele passou por aqui”?

Bem, para ficar claro, listaremos alguns dos obstáculos ou perigos mais comuns que usualmente nos deparamos, lembrando que cada região terá sua própria característica ou condição especifica.

1 – Swell de Ondulação escondida;

Cada lugar da que existe costa, há um local onde a ondulação não entra, onde o remador fica abrigado.

Para fins de segurança sem duvida é e o melhor lugar para se estar.  Contudo o problema chama-se desconhecimento de ate onde o abrigo persiste, até onde se torna seguro avançar.

Logo que me aventurei na canoa, nas minhas primeiras saídas como Leme passei por talvez uma das situações mais complicadas por total falta de conhecimento do local. Na Baia de Guanabara, toda ondulação de Sul passa direto da entrada da boca da barra em direção ao vão central da ponte Rio – Niterói, e sentimos muito pouco quando estamos navegando pelas praias internas. Pois bem, saímos e meu instrutor na época fez o sinal para que aproasse para fora da baia. Ora, um sonho, na época sair da baia de Guanabara era algo ainda raro!!! Assim que entramos no canal, uma serie de ondulações enormes surgiu na nossa frente, e a solução foi sairmos da baia, esperarmos o momento certo e entrarmos novamente a favor. Pela primeira vez me deparei com uma onda rara que praticamente fecha a boca da barra.

Lição aprendida, Ondulação de Sul engana quem navega dentro da baia, e as vezes voltar não da mais.

Igual é na baia de Guanabara, em muitos outros lugares existe esse tipo de situação. Estude e fique ligado! 

2 – Corrente de Maré (especialmente vazante) e variação de maré;

Fundamentalmente a diferença entre corrente de maré e variação de maré é: A corrente corre na horizontal, a variação ocorre na vertical, e essa pequena diferença trazem situações completamente diferentes para a navegação segura.

Por exemplo, quando falamos de corrente de mare, especialmente em dias de sizígia (luas novas ou luas cheias) a velocidade de agua será enorme e quando mais para perto do equador a variação aumenta, logo, a velocidade também. Se for remar contra a mare, tenho que estar preparado para isso. Existe correntes de mais de 5 nos, ou seja, quase 10 km/h!  Apenas para avançar 1km, andando a 11km/h nessas condições, levaremos 1 hora! Isso mina o psicológico e na maioria das vezes e pode ser evitado fazendo um plano de navegação na qual irei a favor e voltarei também a favor.

Já falando do perigo da variação nominal da mare. Existem muitas coisas no fundo do mar, desde pedras ate navios afundados.

Quando um navegador local passa por cima desses obstáculos, ele já conhece ate que altura da mare será seguro para passar. Quem esta começando a navegar pelo local, se quiser fazer o mesmo, porem sem a informação da altura mínima de agua para passar, vai encalhar ou quebrar a canoa.

No Nordeste, existem lugares cujos bancos de areia estendem-se ate 4km da costa na mare baixa e some na mare alta.

A tabua de mare oficial esta disponível no site da marinha:

https://www.marinha.mil.br/chm/tabuas-de-mare

3 – Vento Terral;

O vento terral vem da terra para o mar. Esse vento para quem esta em uma canoa navegando torna-se um grande fator de risco. E não e apenas quando estamos contra ele. Muitas vezes o pior cenário é quando ele esta de traves (de lado), que vai fazendo a deriva ficar quase imperceptível e quando percebemos, estamos longe da costa. E para voltar, teremos que enfrenta-lo de frente. No caso da canoa ter alguma avaria, teremos que nadar contra o tempo todo.

Para uma navegação segura nessas condições, quanto mais perto estivermos da costa melhor. Primeiro porque normalmente é onde ele fica mais fraco, e segundo porque no caso de necessidade de desembarcar, não seremos tão influenciados e estaremos perto da costa.

4 – Tripulação incapacitadas;

Esse tópico e extremamente importante e difícil de lidar. Como dizer não para alguém? Como julgar a capacidade de alguém?

Certa vez, na minha primeira travessia solo Angra – Aventureiro fui encontrar com um amigo e voltaríamos ambos juntos, cada um na sua OC1. Durante nossa estada lá, uma amiga disse que queria voltar comigo… E ai, como dizer que não? Foram dois dias me esquivando ate que na véspera ela me enquadrou e voltou a afirmar: “Amanha volto contigo hein!!! “. Tinha que tomar uma decisão ali, e formulei 3 perguntas:

1 – Há quando tempo você rema continuamente?

2 – Quantas vezes você já remou de OC1?

3 – Se eu não for você vai?

Ela ficou triste, mas entendeu. Eu iria sem ela, mas ela não iria sem mim.

Outro ponto que contradiz isso e mostra uma tripulação capacitada foi a expedição Anamaue que fizemos para Santos. Cada conhecia uma parte do trecho, todos somos extremamente amigos e remávamos há muito tempo. Esses fatores nos levaram a chegar lá ainda mais amigos do que saímos.

Diga não para uma tripulação antes para não se arrepender depois.

5 – Ousadia;

Ousar sem conhecimento, sem se capacitar e o primeiro passo para o acidente.

Atualmente muitos remadores com um, dois anos veem os mais antigos fazendo algo e querem fazer também, muitas vezes não tendo a humildade para reconhecer que aqueles que estão fazendo tiveram sua curva de aprendizado.

É o mesmo que não se capacitar fisicamente e ver alguém correndo uma maratona e querer ir também. Vai se machucar. Ou ver um mestre do surf de ondas grandes caindo em Waimea ou Jaws e com um dois anos de surf, querer fazer o mesmo. A morte se torna iminente!

Contudo, como a canoa é muito inclusiva, onde remamos normalmente em 6, a falta de experiência gera uma grande ousadia e super ego. Já fiz tantos km! Esquecendo que teve um capitão que provavelmente planejou tudo e o levou e o trouxe seguro.

Mas e ai, quando se vai sozinho tudo muda. Muitas vezes, uma remada solo de 5 km se torna muito mais complicada do que 30 km em grupos.

Uma remada solo em prova, onde todo o ambiente em volta tem uma estrutura de contingência, e totalmente diferente de uma remada solo, por si só.

Capacite-se, vá devagar, respeite o oceano. Como já colocamos aqui a frase do velho pescador Catarina da Urca, o mar não é traiçoeiro, ele é intolerante, especialmente com os ousados.

6 – Falta de conhecimento teórico;

Por fim, um grande perigo escondido é o que esta dentro da gente.

Todos gostamos de ir para longe, mas temos conhecimento para isso?

Certo dia conversando com um remador ele estava todo cheio porque tinha conseguido chegar nas Cagarras, uma remada de cerca de 30 km.

Comecei a fazer algumas perguntas básicas: Você viu alguma previsão? Você viu a carta sinótica? Tabua de Mares? Sabe o que quer dizer aquelas boias que passou? Levou telefone celular ou algum tipo de comunicação? Alguém sabia que estava indo para lá?

Todas as respostas foram negativas. Este é o caso de um bom atleta que tem capacidade física, mas nada bom navegador. Ele não tinha que estar ali sem conhecer ao menos o básico! É a típica ousadia sem preparo que por sorte não resultou em um acidente.

Estudar, ler relatos, ler livros dos grandes navegadores, entender navegação. A falta desta consciência talvez seja o maior perigo escondido de todos, pois afeta todos que estão no mar no mesmo momento que a gente.  E esse, esta dentro da gente, não no outro ou no ambiente.

MAIS IMPORTANTE QUE O IR SERÁ SEMPRE O VIR!

ALOHA!

Douglas Moura

Remador e Captão.

Instagram: aloha_douglas_;

Facebook: Douglas Moura 

Douglas conta com os apoios – @Evoke eyeswear; @PuroSuco.oficial;@ RaldreiNatividade fisioterapia esportiva; @Rpilates; @AcademiaNiteroiSwim; @IcarahyCanoa;

Além disso, desenvolve treinamentos focados em navegação segura. 

Alex Araujo
Alex Araujo
Alex Araújo é um dos pioneiros em criação de conteúdos esportivos na internet. Atua neste mercado desde 1996 como editor de renomados sites como CAMERASURF, SURF-REPORTER e nas revistas PARAFINA MAG e SUP MAG, e já colaborou com artigos nas Revistas Fluir, Inside,Hardcore e no Jornal Drop.
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