Domingo, Dezembro 22, 2024

Apoio

InícioFoil Board10 fatores que influenciam na navegação do downwind

10 fatores que influenciam na navegação do downwind

10 fatores que influenciam na navegação do downwind – Além do equipamento apropriado, é fundamental entender conceitualmente sobre os principais fatores que propiciam a prática do downwind a remo e como eles influenciam na escolha da rota e nas condições de navegação baseadas principalmente na direção e qualidade das ondulações que irão favorecer a descida.

10 fatores que influenciam na navegação
Raia de Fortaleza até a Praia do Cumbuco

Antes de passar por esses aspectos naturais, é preciso conhecer nos detalhes a costa que se pretende explorar, sabendo com precisão os pontos de entrada e saída, tendo em mente os possíveis escapes nos casos em que o downwind não sair conforme planejado. Esses pontos devem ser livres de pedras, correntes ou qualquer outro fator que possa por em risco a saída do mar com o equipamento. Reforço que todos os fatores de segurança devem ser conferidos minuciosamente antes de entrar no mar (montagem e integridade do equipamento, colete de flutuação, hidratação, leash, dispositivo de rastreamento, apito de sinalização, gel energético, etc).

10 fatores que influenciam na navegação
10 fatores que influenciam na navegação do Downwind

Como o nome diz, o vento é o responsável por soprar a superfície da água gerando os bumps ou vagas (ondulações de vento) que se perpetuam em sequência na mesma direção do vento proporcionando a navegação. Diferente da vela, em que o velejador usa diretamente a energia do vento para empurrar a prancha ou embarcação, no downwind a remo aproveita-se indiretamente a energia do vento já transferida para a superfície da água em movimento para manter a velocidade de planeio. Essa energia é distribuída ao longo da superfície da água e se acumula em várias zonas formando as vagas. Quando algumas vagas sequenciadas em movimento se juntam, formam bolsões ou pockets de energia de maior intensidade (vagalhão) até sua crista quebrar (devido à gravidade) e se dissipar para formar outras de menor tamanho, repetindo o ciclo. Portanto, quanto maior a intensidade do vento, maior a regularidade, tamanho e potência dessas ondulações que se formam e dissipam a todo instante em um ciclo contínuo enquanto o vento durar.

Porém, a intensidade do vento não é o único fator que determina a qualidade das ondulações. Ao longo da minha recente experiência nos últimos três anos voltados ao downwind foil na costa cearense, pude identificar alguns aspectos determinantes, como a direção do vento, a pista de vento, a duração do vento, a profundidade da água, o tipo de fundo, a existência de swell (ondulação oceânica), variação da maré, correntes e a distância da costa. Cada um desses aspectos influenciam em certo grau as ondulações em um determinado local, sendo o resultado da combinação desses fatores naturais que determinam a real condição do mar que irá refletir na qualidade da navegação. Somado a isso ainda pode haver outros fatores artificiais, como a existência de espigões de pedra, navios, naufrágios, pontes, portos, embarcações e tudo mais que possa causar interferência na superfície da água. Por essa razão, nenhum downwind é igual a outro e no mesmo downwind normalmente existem diferentes tipos de bumps ao longo do trajeto.

A seguir, relaciono de maneira isolada como esses fatores impactam nas ondulações:

1 – Intensidade do vento: ventos mais fortes sopram a superfície da água com mais pressão, resultando normalmente em ondulações mais frequentes (menos gaps ou zonas mortas), íngremes e velozes. Por essa razão, tende a gerar ondulações mais espaçadas (maior período), enquanto que ventos fracos geram vagas menores e de curto período. A rigor, não há limite mínimo de intensidade de vento para se fazer um downwind. No entanto, quanto menos vento, mais esforço físico é necessário para manter o foil planando compensando a falta de energia em zonas mortas (flat) com a ajuda do pump. Em geral, quanto maior a intensidade, maior o conforto e facilidade da navegação e menor a necessidade de pump.

10 fatores que influenciam na navegação do Downwind
10 fatores que influenciam na navegação do Downwind

2 – Direção do vento: idealmente se busca condições de vento mais próximas de lateral em relação à costa pois facilita descer paralelo à margem sem precisar se distanciar muito. Porém, são mais comuns condições de vento side on-shore (lateral maral) em que o vento sopra numa diagonal em direção à terra. Quanto mais maral, mais as ondulações empurram para a costa, dificultando a navegação paralela. Também deve-se evitar vento terral (da terra para o mar) por questões de segurança e devido à falta de ondulações próximas à margem (ver fetch a seguir). Diferente das embarcações a remo e canoagem, o foil tem menos autonomia para navegar na direção de través (lateralmente ao vento) pois precisa usar a energia das ondulações para manter a velocidade de planeio. Ângulos mais abertos de través geralmente são usados para ganhar distância da costa e requerem que a velocidade seja mantida com ajuda do pump, aumentando consideravelmente o esforço e desgaste físico. Resumindo, nem sempre a navegação é totalmente alinhada com a direção do vento (arribada) por questões principalmente geográficas. Nesses casos, a navegação de downwind consiste quase sempre em alternar a direção arribada com um través necessário para manter uma linha paralela à costa ou em curva procurando aproveitar melhor as diferentes condições ao longo da rota.

10 fatores que influenciam na navegação do Downwind

3 – Pista de vento (fetch): extensão do trajeto que o vento percorreu sobre a água, gerando ondas. Quanto maior o “fetch”, maior a distância percorrida pelo vento e, geralmente, maiores serão as ondas resultantes. É um termo importante na navegação para descrever as condições de ondulação em uma determinada área, levando em consideração a direção e a intensidade do vento ao longo de uma distância específica. Para o downwind partindo de áreas abrigadas, como baías e enseadas (vento incide terral), deve-se considerar que as ondulações vão aumentando gradativamente, dificultando bastante o start e a navegação (pump) no início até que o vento percorra alguns quilômetros necessários para desenvolver as vagas. Por essa razão, diferentemente das pranchas e embarcações de arrasto, idealmente procura-se iniciar o trajeto em áreas com incidência direta do vento (depois de espigões, baías e portos) buscando minimizar a influência da fetch curta na largada.

10 fatores que influenciam na navegação do Downwind
10 fatores que influenciam na navegação do Downwind

4 – Duração do vento: Quanto mais tempo o vento incide sobre a água, maior a energia acumulada e traduzida na forma de ondulações. Assim, deve-se monitorar estações em tempo real para saber se o vento já incidiu tempo suficiente para a formação das vagas, pois existe uma inércia nas ondulações tanto no momento em que o vento começou a soprar, como também após o vento diminuir de intensidade. Essa vantagem em relação à vela faz com que o downwind foil seja possível mesmo após o vento cair totalmente. Condições épicas para o downwind normalmente ocorrem durante a temporada, quando o vento permanece soprando com intensidade na mesma direção por vários dias seguidos sem cessar durante a noite.

5 – Profundidade da água: o primeiro fator não relacionado ao vento afeta significativamente a formação e o comportamento das ondas de vento. Em águas rasas, as ondas são mais influenciadas pelo fundo do oceano, causando uma mudança em sua forma e altura. O atrito com o fundo pode fazer com que as ondas se tornem mais íngremes e menos espaçadas (período curto).

10 fatores que influenciam na navegação do Downwind


Em águas profundas, de maneira oposta, as ondas de vento têm menos interação com o leito do oceano, resultando em ondas mais longas e com menos alterações em sua forma. A profundidade também afeta a velocidade de propagação das ondas; em águas mais profundas, as ondas viajam mais rápido (maior período). Para o iniciante ou aquele que prefira navegar com asas maiores em baixa velocidade, locais com menos profundidade e ventos intensos, como o Preá (Ceará) são ideais pois facilitam a subida e navegação próxima da costa. Já a famosa raia Mucuripe-Cumbuco conta com ondulações mais rápidas e longas após alguns quilômetros de fetch ao passar por águas profundas.

6 – Tipo de fundo: o tipo de fundo afeta principalmente a regularidade das ondulações. Quanto mais regular é o fundo, mais consistentes e igualmente espaçadas são as ondulações. No caso de bancadas de rochas e coral, também tende a manter vagas mais consistentes. No downwind é nítida a alteração das ondas ao passar por uma zona de bancada, normalmente ganhando altura e reduzindo o período.

7 – Maré: o movimento das marés causam interação com o movimento da superfície da água a favor do vento. Quanto maior a variação de maré (coeficiente de maré) a favor da direção do vento, mais rápidas e espaçadas tendem a ser as ondulações, enquanto marés secantes causam uma reação contrária ao efeito do vento, fazendo com que elas se acumulem em curto período de forma mais íngreme.

8 – Correntes marítimas: As correntes normalmente tem influência local e seus efeitos normalmente são mais conhecidas por surfistas e pescadores da região. Por esse motivo, vale a pena consultar os locais como as correntes do local afetam a navegação e sob quais condições elas predominam.

9 – Existência de swell: além do vento, talvez esse seja o fator mais sensível que influencia a qualidade das ondulações, pois incidência de ondulação oceânica não gerada localmente pelo vento produz necessariamente interferência nas vagas, quase sempre em direção cruzada, dificultando consideravelmente a leitura do mar e sua navegação, pois o swell viaja em intensidade, período e direção diferentes das vagas, gerando condições indesejadas e às vezes caóticas que inviabilizam a navegação. Portanto, a não ser para navegadores experientes, sugere-se evitar downwinds quando há incidência de swell.

10 – Distância da costa: rotas distantes da costa em alguns quilômetros possuem a vantagem de não ter limitação de fetch, possuir profundidade suficiente para que as ondulações viagem com tamanho, velocidade e regularidade sem sofrer interferências do fundo nem da costa (refração, backwash). Além disso, é possível navegar totalmente alinhado com o vento e com maior amplitude de movimento, permitindo buscar as melhores ondulações para os dois lados sem a preocupação de se aproximar da costa. Em mar aberto as ondulações são mais previsíveis, facilitando a tomada de decisão para a conexão entre as vagas com mais conforto e velocidade. Por outro lado, efeitos indesejados são mais presentes na proximidade da costa, onde a energia das ondulações é dissipada, o que dificulta bastante a navegação. Portanto, sugere-se evitar downwinds próximos da costa, mantendo uma distância suficiente para usufruir das ondulações regulares com mais energia e previsibilidade.

10 fatores que influenciam na navegação do Downwind
10 fatores que influenciam na navegação do Downwind

Vale lembrar que o que determina a condição do downwind é a soma de todos esses fatores combinados, além de outras características climáticas e geográficas de cada local, podendo variar consideravelmente em questão de horas e até mesmo minutos. Portanto, mesmo sendo uma modalidade com alto grau de imprevisibilidade, quanto melhor o entendimento sobre cada um desses fatores e sua experiência em diferentes condições, mais fácil será a tomada de decisão de acordo com o nível de navegação, tipo de equipamento e local escolhido para o sucesso na navegação. Assim, é recomendado iniciar em rotas já mapeadas percorrendo trechos mais curtos respeitando o grau de experiência e conforto para ir aumentando gradativamente o nível de dificuldade e distâncias percorridas conforme vão sendo acumuladas horas de navegação. Para isso, ideal também utilizar sempre as ferramentas de previsão (vento e swell), além de consultar a tábua de marés do local para planejar o melhor dia e horários da partida. Mapas online e cartas náuticas também podem ser aliados quando se deseja explorar novas rotas de downwind.

O portal dwfoil.com é uma comunidade virtual que reúne em um mapa as rotas de downwind foil já exploradas mundialmente, incluindo Fortaleza como um ponto de início no Brasil. Caso haja registro de outras rotas de downwind já mapeadas e que possam ser exploradas no SUPfoil, não deixe de mencionar nos comentários para que possam servir de referência para outros praticantes da modalidade que deve crescer exponencialmente em no próximo ano.

Boas remadas e bons ventos em 2024!

Veja mais artigos sobre o Foil Board, clique aqui!

Carlos Firmeza
Carlos Firmeza
Carlos Firmeza é o primeiro campeão Brasileiro de DW de SUP Foil pela CBSUP e recordista do Molokabra DW.
ARTIGOS RELACIONADOS

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

- Advertisment -

Most Popular

Recent Comments

Bruno Raposo on Va’a cresce em Portugal
Diogo Oliveira on Va’a cresce em Portugal
Anderson Carvalho da Silva on Va’a cresce em Portugal
Patricia Mesquita Vieira on Stand up Paddle seja bem-vindo a Tribo!
Patricia Mesquita Vieira on Verão chegando – S.O.S Canoa Havaiana
Marcelo Zabrieszach Afonso on Perigos e soluções em suas remadas!
José Robson Venturim on Os melhores GPS para Remar
ADRIANA APARECIDA CLARO on Remando à favor da maré
Anderson Carvalho da Silva on 6ª volta de Ilha Grande
Anderson Carvalho da Silva on Big Surf de canoa em Waimea
Anderson Carvalho da Silva on Remada das Luzes de Natal
Anderson Carvalho da Silva on Desafio em canoas havaianas 2020 – Paidégua
Jairo Ferreira Dantas on Como navegar no mar de forma segura
Ruth Helena Mendes on I etapa Imua Ceará Va’a
José Erivaldo dos santos alves on Os especiais do Molokabra – Miguel Nobre
Eliana Miranda Sampaio on Verdes Mares com tom de rosa