Aloha galera, com muito prazer, depois de algum tempo voltamos com a nossa coluna “mestre dos mares”.
A minha história no VAA está diretamente ligada com o surf.
Desde que me entendo por gente estou no mar pegando onda. Aos 9 anos de idade ganhei a minha prancha, até hoje me lembro, uma Ricardo Martins 5’9. Durante muito tempo o surf foi a razão da minha vida e me levou para conhecer o mundo. Até hoje ainda é a atividade que mais amo praticar. Acho que a simples sensação de deslizar em cima de uma onda formada a milhares de quilômetros de distância e que formosamente despeja a energia em uma bancada rasa é indescritível.
Contudo o surf muitas vezes é um esporte ingrato para a maioria dos seres normais, afinal depende de inúmeros fatores para estar realmente bom e também do deslocamento para ir atrás das melhores ondas, o que demanda muito tempo em locais com trânsito pesado como na maioria das grandes cidades.
O surf tem o lado filosófico, o lado da contra-cultura, do lifestyle praiano, da saúde, do lidar com os medos, com o espírito aloha, com a cultura especialmente havaiana. E como eu adorava me debruçar em cima das revistas e ler as histórias do Rico, do Daniel Hardman, do Ricardo Bocão, do Jeremias Mica, e de inúmeros outros ídolos de uma geração como a minha.
Nos verões entretanto era um problema já que na maioria dos dias e especialmente nos fins de semana não dá onda e quando dá onda é um crowd absurdo. Lembro que minha mãe ficava maluca comigo pois o meu mal humor nesses dias era algo perto do insuportável.
Até que em Dezembro de 2005 vi pela primeira vez a canoa polinésia aqui em Niterói. Era apenas uma, a Lokahi trazida pelo meu mestre Marcelo Depardo, um dos pioneiros da canoagem polinésia no Brasil e o pioneiro na cidade de Niterói, no clube Niterói VAA.
Lembro até hoje da minha primeira remada! Um remadão de 5 km rsrsrsrs. E foi mágico. Finalmente uma atividade que me desconectava do mal humor do sofá e me levava para dentro do mar com possibilidades de usar o Oceano conectado com essa cultura que eu tanto amava, dos havaianos e da sua forma de respeitar os mares e a natureza.
Depardo sempre frisava os valores da canoa, não pula, não falar palavrão, fazer a roda de agradecimento antes e depois da remada.
E aquilo foi cada vez mais ganhando espaço na minha vida.
Passou o verão praticamente sem onda e normalmente quando o outono chegava eu me sentia morto sem preparo já que não gostava de academia e a outra atividade que fazia era nadar muito, mas nada se comparava a ter que ficar horas e horas pegando onda naquela postura que quem já surfou entende o que eu falo.
Porém nesse outono foi diferente. Eu estava em forma! Me sentia um monstro fisicamente. O pulmão aberto! Os ombros fortes e a remada, essa então nem se fala! Entrar nas ondas e disputar remada com a galera ficou muito mais fácil do que era antes!
E rapidamente associei esse progresso com a canoa polinésia que eu vinha praticando regulamente!
Cara, que sensação maravilhosa era aquela! Poder surfar com tanto gás e com tanto rip quanto se eu tivesse surfado o verão inteiro!
Pronto achara minha atividade complementar ao meu esporte! Foi pura magia.
Passado alguns anos fui finalmente para o Havaí pegar aquelas ondas grandes que eu via nas revistas. Tinha todo aquele misticismo do North shore de Oahu, as famosas e intensas “7 miracle miles”. Tinha também as histórias dos Black Truncks do Havaí e da violência com os Haoles.
Decidi que ia remar e conhecer a galera local. Meu amigo Laercio que hoje é residente lá me levou para remar em Haleiwa e aí fui conhecendo mais a galera da remada e me entrosando.
É completamente diferente chegar como remador ou chegar como surfista. O surf envolve muita disputa, a canoa envolve o mais puro dos sentimentos culturais do Havai, a tradição, a descoberta da ilha pelos polinésios.
Lá eu pude perceber o quanto os surfistas locais dão valor as canoas. E como eles a utilizam no verão havaiano com poucas ondas para se manter em forma! A família Keulama, a família De Soto, Hamilto, Kay Lenny, os Ho, todos eles têm uma conexão imensa tanto com o surf quanto com a canoa polinésia, muito além do esporte, uma conexão espiritual mesmo. De ancestralidade, de respeito, de lutas também porque não.
Saí do Havaí ainda mais apaixonado pela cultura do Oceano, do mar, das ondas, do VAA.
Aqui no Brasil já temos grandes surfistas apaixonados pelo VAA e o usam para se divertir e se manter em forma. O mais expoente e que já tive o imenso prazer de realizar provas e travessias é o meu grande mestre e amigo Alemão de Maresia, a quem tenho máximo respeito e admiração.
E hoje em dia, continuo tanto pegando minhas ondas quanto remando quase todo dia.
Sem dúvidas um outro fator que me motiva e une as duas atividades é a possibilidade de se chegar em lugares isolados usando a canoa. Tem muita onda alucinante por aí e que pode-se chegar remando ao invés de se pagar um barco. É mais divertido eu garanto . E entre eles o primeiro que escolhi chegar foi em Martim de Sá em 2010. No carnaval, estava vazio por causa de tempo e até hoje lembro do falecido Sr.Maneco falando:
“Meus fios, ces são doido de vir nesse troço aí” E riu, e olhou pro barracão dele onde ninguém ficava, e falou “Ces tudo podi ficar aí.” E deu altas ondas.
D.Lorenza sempre antes da gente ir embora acordava cedinho as 3 da manhã para fazer um bolo de despedida e desejar uma boa navegada para nós.
Ambos já se foram desse plano, mas as memórias ficam.
E de Martin de Sá, Antigos, Antiguinhos, Sono, Trindade. Assim fechei a minha primeira viagem de surf + canoa. Depois disso vieram algumas outras e todas especiais.
O verão está chegando aí, o flat também. Assim, você que pega onda e nunca remou por qualquer motivo que seja, te convido a experimentar o VAA. Venha de cabeça aberta e prepare-se para entrar em uma nova forma de se manter em contato com o Oceano.
Procure uma escola que realmente pratique o VAA, não uma “Escola de Remo Havaiano”. É totalmente diferente especialmente para aqueles que amam os Oceanos acima de qualquer tipo de atividade física!
Grande Aloha,
Do seu colunista,
Capitão Douglas.