Como atleta de vários esportes, sempre vi os praticados na água como uma válvula de escape para muitas pessoas. No caso de esportes como surf, não é só um esporte, é uma religião um estilo de vida e isso que me atraiu no início da década de 80. Observava o estilo de vida de muitos surfistas já consagrados como Taiu, Paulo Tendas e muitos outros que brilhavam os olhos de garotos que como eu, queriam de qualquer forma fazer parte daquela tribo mágica.
Logo consegui uma prancha K&k e estava arriscando minhas primeiras braçadas no outside e desvendando o mundo totalmente hostil que cercava o esporte naquela época, pois antigamente garotos novos como eu e alguns outros nem no outside podiam surfar, existia uma regra muito mais feroz e acirrada do que hoje, e isso foi muito bom para minha formação de caráter dentro e fora da água, pois ali aprendíamos na marra a respeitar os mais velhos e conhecer nossos limites. Mesmo assim o surf na década de 80 e 90 foi mágico, muitos falam da época de 60 e 70, que teve uma grande magia, mas com certeza a década de 80 e 90 foi a década de maior revolução no esporte em termos de tribo e identidade.
Fazendo uma analogia ao surf, quando conheci o Stand up paddle senti a mesma sensação que quando desci minha primeira onda no canto do Maluf no Guarujá, uma sensação de liberdade misturada com aventura e prazer e a possibilidade de poder estar e ir em qualquer lugar com minha prancha me fizeram apaixonar de cara pelo esporte.
O SUP teve uma grande arrancada de 2010 pra frente, muitas pessoas ficaram fascinadas com a possibilidade de andar sobre as águas e sentir o “Beach Life Style”. Na minha opinião este foi o grande boom do SUP, levar o estilo e o Life style da praia em qualquer lugar que tivesse um pouco de água. Isso aliado a sensação de ter uma prancha amarrada em seu carro, levou o SuP ao patamar de esporte revolucionário e em pouco tempo praticamente todos os locais do Brasil abraçavam a modalidade. Lembro de uma vez estar em Goiânia passando férias em um local que nunca imaginaria estar, e vi um cara chegando com um carro característico do surf, ouvindo um bom e velho sertanejo e de dentro dele sai um cowboy a caráter com bota de couro e chapéu de couro e pasmem, em cima do seu carro tinha uma prancha de SUP é um remo, hoje isso parece normal, mas para mim naquela época foi uma baita quebra de paradigmas. Naquele momento não tinha mais duvidas o Stand up Paddle iria explodir como esporte em todo o Brasil.
Logo em 2011 se iniciou a ABASUP, e em Osório numa lagoa nasceu o circuito Brasileiro de Stand Up Paddle, a partir de etapa gaúcha os eventos não pararam mais, e todo evento era um show, centenas de remadores na água, centenas de espectadores olhando aquela tribo nova que nascia. Pude participar do nascimento do SUP de forma ativa, fui um dos fundadores da ASUPCE (Associação de Stand up Paddle do Ceará), também fui um dos fundadores da CBSUP (Confederação Brasileira de SUP) e um dos maiores incentivadores do Esporte no interior de São Paulo. Como atleta participei e competi em vários eventos nacionais e internacionais, sempre com profissionalismo e muita competitividade, tive a oportunidade de representar o brasil em dois mundiais e ainda ter sido nomeado técnico da delação no ano de 2014. Tudo isso foi fruto de um longo trabalho da CBSUP e crédito do seu presidente Ivan Floater, que mesmo com muita dificuldade sempre lutou pelo crescimento do esporte. Nestes últimos 2 anos devido à pandemia o SUP saiu um pouco de cena, mas não se enganem ele não morreu e muito está sendo feito para que ele volte com tudo neste ano de 2022.
O SUP não é como o surf, pois a tradição do surf é muito maior, mas o SUP também é um estilo de vida, e tem uma tribo própria que sempre vai estar fomentando e alimentando o surgimento de novos praticantes. Nestes últimos anos vi muita gente discutindo e apontando o dedo, na minha opinião temos que fazer nossa parte da melhor forma possível, e fazer nosso esporte crescer, só assim as coisas vão progredir. Discussão e apontamentos só trazem conflitos, e isso não soma nada para o esporte.
Meus parabéns a todos vocês que levantam a bandeira do SUP e fazem sua parte sem precisar de nenhuma associação, federação ou confederação!
Vida longa ao SUP!!
É isso aí! Falou tudo!
Excelente matéria.