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Doctor Paddle – Gelo vs Calor

Vamos para o assunto mais debatido, discutido, polêmico e incrível que pareça, lógico, óbvio e com comprovação científica, mas ainda gera dúvidas.

Para entender o que usar, primeiramente, temos que entender o que é processo inflamatório e como acontece.

Pesquisei em algumas bibliografias científicas, o que significa “inflamação” e “processo inflamatório”, para ficar bem fundamentado e encontrei uma frase, de um médico que é uma referência mundial em patologias (doenças): “Inflammation is a process, not a state” (Adams, 1926) – Inflamação é um processo, não um estado.

“A inflamação pode ser definida como a reação do tecido vivo vascularizado à injúria local. Invertebrados sem sistema vascular, organismos unicelulares e parasitas pluricelulares têm suas próprias respostas aos estímulos externos danosos. O processo inflamatório, sob determinado ponto de vista, pode ser encarado como um mecanismo de defesa do organismo e, como tal, atua destruindo (fagocitose e anticorpos), diluindo (plasma extravasado) e isolando ou seqüestrando (malha de fibrina) o agente agressor, além de abrir caminho para os processos reparativos (cicatrização e regeneração) do tecido afetado. Entretanto, a inflamação pode ser potencialmente danosa, uma vez que em sua manifestação pode lesar o próprio organismo, às vezes de forma mais deletéria que o próprio agente injuriante, como ocorre por exemplo na artrite reumatóide do homem e em alguns tipos de pneumonia. Mas, a tendência da maioria dos estudiosos ao se referir a este processo concentra-se em exaltar suas ações benéficas e minimizar as indesejáveis” BECHARA, G. H.; SZABÓ, M. P. J. PROCESSO INFLAMATÓRIO. Alterações vasculares e mediação química. Adams, p. 1-15, 2009.

Quem lê, parece uma coisa horrível, mas não é para tanto, explica a importância da inflamação e o objetivo da sua resolução de forma imediata e eficaz, para não haver piora do quadro ou sequela importante. Eu defendo a seguinte teoria: diagnóstico errado, tratamento errado.

Voltando ao processo inflamatório, a inflamação tem 4 estágios distintos:

– calor: quando ocorre uma lesão, tem ruptura de microvasos sanguíneos, que vão extravasar sangue para os tecidos. O sangue é quente e por isso do calor;

– vermelhidão: a cor do sangue é vermelha e por esse motivo vai apresentar vermelhidão;

– edema (inchaço): com o extravasamento de sangue, vai ter outras propriedades que também vão acompanhar, como a linfa e plasma;

– dor: acontece por 2 motivos. Um deles é a propagação do mecanismo de lesão pelo sistema nervoso até o cérebro, que é decodificado como lesão e volta por outra via nervosa, com estímulo de dor. Isso acontece em fração de segundos. E o outro motivo, com o extravasamento de sangue, é liberado neurotransmissores de dor.

Se analisarmos os 4 estágios da inflamação, eles são praticamente vaso dilatação, correto? E para diminuir a vaso dilatação, é melhor gelo ou calor?

Uma coisa importante que precisamos pensar sobre inflamação, ela não é especificamente associada a um trauma ou lesão, é associada a qualquer fator que gere dor. Como torcicolo, acordou com dor na lombar, subiu e desceu escada e está com dor no joelho, foi aquela viagem que se deitou de forma errada. Sempre que houver dor, vai ter inflamação, mesmo que seja leve.

Durante as disputas é muito fácil se lesionar, seja com uma remada na costela ou uma pranchada em outro local

Calor ou gelo?

O calor, é um vaso dilatador e o gelo, é um vaso constritor. E outra, o calor retarda a velocidade do estímulo até o cérebro e vai voltar, na mesma velocidade que foi, lento. Depois de todas essas explicações, qual é o melhor ou ideal?

Mas me falaram para colocar calor, por quê? O calor é relaxante, é mais prazeroso do que colocar gelo, mas em muitos casos, pode gerar mais vasodilatação e espalhar mais a inflamação.

Eu coloquei calor uma vez e foi o que resolveu o meu caso, como explica isso? Pode acontecer, houve um relaxamento da fibra, mas para isso, tem que saber se existe um histórico de problema na região. Se é comum teres torcicolo, um dia, esse calor pode piorar. Agora, se aconteceu aquela vez que dormiu num hotel e a cama era ruim, até pode funcionar.

Na Fisioterapia, se coloca calor. Sim, para diminuir a viscosidade dos líquidos articulares ou relaxar a fibra muscular e depois, é feito uma técnica analgésica. E no final da sessão, é colocado gelo.

Outras opções do uso do calor

E a hidroginástica e as piscinas termais? Isso é outra explicação e é outro caso. A imersão na água quente, tem influência no sistema endócrino, vascular, gastrointestinal e dentre outros. Em resumo, tem uma ação fisiológica positiva nas funções corporais. Bem diferente da aplicação de calor direto.

Também existe o banho de contraste, que é usado de forma errônea, pela grande maioria. Ele é indicado apenas para diminuir edema e mais nada. No caso de um edema antigo ou edema de final do dia, o líquido está viscoso, denso e não consegue ser absorvido. Nesse caso, vou começar com calor, depois frio, depois calor e terminar com frio. O calor vai diminuir a viscosidade e gerar vaso dilatação e o frio vai fazer uma vasoconstrição, uma massagem de compressão: aquece e aperta, aquece e aperta, por esse motivo termina com frio.

Nos casos de edema agudo, comum em lesões recentes, o líquido está mole e cheio de marcadores inflamatórios. Vou começar com gelo, coloca no calor, depois gelo, calor e termina com gelo. Sempre vai terminar com gelo.

A sauna, vou confessar que nunca estudei. Ela entrou em decadência aqui no RS, são poucos lugares que vendem o sistema e quase não é mais oferecido nos clubes. Eu sei que a sauna úmida serve para uma coisa e a sauna seca, serve para outra. Pelo pouco que eu conheço, é muito benéfica.

Como usar o gelo

Outra coisa que aprendi na Faculdade de Fisioterapia, é como escolher um protocolo. Se tu falas com um médico, diz uma coisa, se fala com o fisioterapeuta, é outra e o professor, complicou mais ainda, quem está certo agora?

Quando cursava Educação Física, fui convidado para ser fisioterapeuta do esporte universitário da ULBRA e fui me orientar com o ilustre Prof. Crescente, que era médico do Inter e agora fisiologista da CBF, para aprender a trabalhar com atletas. Me convidou para conversar com o Prof. Cesar Abs, que era fisioterapeuta do Inter na época e estava no Mundial.

O protocolo do Sport Clube Internacional, quanto ao uso do gelo é: mãos e pés 10 minutos e o resto do corpo 20 minutos. Encerrado a discussão, tenho o meu protocolo e é esse que vou seguir. Não tenho mais motivos para debater ou discutir quanto tempo de uso de gelo, já escolhi o meu protocolo.

Existe outra forma de usar gelo, eu indico muito e tem trazido melhores resultados do que bolsa de gelo: imersão na água gelada. Água gelada e não água fria, isso mesmo, blocos de gelo para gelar a água e não forminhas de gelo.

O banho de imersão é muito usado nas corridas e no futebol, aonde o atleta entra num tonel com água e blocos de gelo, até o joelho ou até o quadril. Alguns ciclistas usam a imersão em banheiras de água com gelo. E tem atletas, que entram em piscina ou praia no inverno, para fazer a mesma coisa.

Pensando no resfriamento dos tecidos, na imersão, eu tenho 100% de cobertura e o saco de gelo, terá áreas com ar e não contato com os tecidos. E outra vantagem da imersão, é o tempo de aplicação, apenas 04 minutos, não precisa mais que isso.

Vão perguntar se é benéfico colocar gelo na cervical, na cintura escapular e a resposta é sim. E as mantas quentes e infravermelho, ajuda? Sim, ajuda a piorar o quadro inflamatório. É uma piada de consultório.

Muito gelo e o que sobrar, coloca no whisky (brincadeira ou não)!!!

Por: Fabiano Bartmann

Fisioterapeuta – CREFITO 5 / 50266-F

Profissional de Educação Física – CREF 9768-G/RS

Mestre em Biociências e Reabilitação

Especialista em Acupuntura

Professor da Faculdade Sogipa

Bicampeão Gaúcho de SUP Race Master – 2017 e 2018

Membro da equipe Rabbit de SUP

Alex Araujo
Alex Araujo
Alex Araújo é um dos pioneiros em criação de conteúdos esportivos na internet. Atua neste mercado desde 1996 como editor de renomados sites como CAMERASURF, SURF-REPORTER e nas revistas PARAFINA MAG e SUP MAG, e já colaborou com artigos nas Revistas Fluir, Inside,Hardcore e no Jornal Drop.
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