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Campeão em foco – Batemos um papo com Carlos Firmeza, campeão Brasileiro de SUP Foil.

Campeão em foco – Batemos um papo com Carlos Firmeza atleta de Supfoil voltado ao downwind desde 2022, que se tornou o primeiro campeão Brasileiro da modalidade, e deixa seu nome escrito da história da CBSUP. Carlos é Nascido em Fortaleza, mora no Cumbuco-CE desde a pandemia em 2020, tem como background de esportes de velejo, prática kitesurf desde 2014, kitefoil (2018) e wingfoil (2021). Tem se especializado no downwind de Supfoil com diferentes equipamentos, e se dedicou muito para chegar ao Molokabra e fazer bonito, sendo fita azul entre os brasileiros na prova de 30 km no último dia do evento. Confira o bate com o atleta:

COMO FOI SUA PRIMEIRA EXPERIÊNCIA COM O SUP FOIL?

Antes de iniciar os treinos em maio de 2022 eu já tinha mentalizado de forma bem clara que queria aprender o sup foil pra fazer os downwinds que já tinha experiência na vela com kite e wing foil. Com a ajuda de alguns praticantes no exterior divulgando os downwinds nas redes sociais eu criei uma meta de aprender a subir na remada e pra isso tive que desenvolver a técnica necessária e buscar o equipamento adequado. 

Carlos Firmeza atleta de Supfoil
Carlos voando nos verdes mares

O primeiro passo foi aprender a remar em cima de uma prancha com as maiores dimensões possíveis e com a orientação de um instrutor experiente. Fiz algumas horas de aula para adquirir o mínimo de equilíbrio e postura para evoluir em uma prancha menor. Como eu já tinha o foil que usava com o wing, adquiri um remo e encomendei de um shaper local uma prancha de supfoil com as dimensões semelhantes às usadas pelos gringos. Ou seja, com bom comprimento e pouca largura pra facilitar o start. Enquanto a prancha ficava pronta eu treinei a remada em várias pranchas emprestadas de wingfoil e uma de supwave com volume suficiente pra me flutuar, porém bastante difíceis de remar em pé.  Quando finalmente ficou pronta minha primeira supfoil (6’0x20” 85L) eu já estava com uma técnica decente de remada com equilíbrio e em linha reta.

QUAL A PRINCIPAL DIFICULDADE QUE VOCÊ ENCONTROU NO INÍCIO?

Como eu já dominava o foil e a navegação nas ondulações de vento (vagas) fazendo downwinds com o wing no neutro, a dificuldade inicial sem dúvida foi adquirir pressão suficiente na remada pra decolar o foil. Foram cerca de 3 meses desde o primeiro treino de remada até a primeira vez decolando no mar com ventos suficientes pra subir e manter a navegação por mais de um quilômetro até a praia. Além de equilíbrio e coordenação durante o sprint da remada, foi crucial desenvolver o feeling pra saber o tempo da ondulação, quando remar e principalmente quando não remar para evitar de esgotar fisicamente. É uma questão de conservar a energia e explosão para o momento exato em que a ondulação empurra a prancha.

Carlos Firmeza atleta de Supfoil
Carlos usou a experiência adquirida em outros esportes para maximizar sua perfomance no Sup Foil

QUANTO TEMPO VOCÊ DEMOROU PARA SENTIR SEGURANÇA PARA FAZER PERCURSOS MAIORES?

Depois dos primeiros vôos o processo foi evoluindo aos poucos. Como a costa do Cumbuco é bem extensa, fui iniciando as descidas cada vez mais em direção a Fortaleza, já que sempre finalizava próximo do local onde moro. Assim, treinava quase todos os dias até ter a técnica, condicionamento e segurança suficientes pra dar um passo considerável, iniciando o downwind da Barra do Ceará até o Cumbuco, os 20km que hoje eu considero como minha descida favorita, com ótimas ondulações em aproximadamente uma hora de downwind. Esse processo foi gradual e levou cerca de 3 a 4 meses. Finalmente, com a ajuda do pessoal da Brothers Wind School no Mucuripe, em junho de 2023 realizei minha maior meta no sup foil de completar a raia de 30km da Beira Mar de Fortaleza até o Cumbuco. Essa raia permite treinar tanto a velocidade e eficiência nas conexões como o surf downwind usando as curvas no foil também como uma forma de conectar ondulações. O remo é usado durante o start no início e ao longo do downwind pra impulsionar nos casos em que o foil precisa recuperar velocidade fora de uma zona de energia.

QUAL EQUIPAMENTO VOCÊ USA ATUALMENTE?

Cheguei no estágio de conseguir decolar com asas de foil com performance e velocidades bem maiores da que eu iniciei. Para isso foi necessário evoluir na técnica e no equipamento, sempre acompanhando as condições ideais para cada tipo de prancha e foil. Hoje eu uso uma supfoil 6’4 x 19” de 74L com asas de 1000 a 1300cm2 da Gofoil para condições fracas e moderadas ou mais voltadas ao downwind foil surf e uma 7’1 x 18” de 85L com foil Lift 120 de 775cm2 para downwinds mais rápidos em condições de vento acima de 18 nós. Ambas as pranchas feitas pelo @gustavo_ratones do RJ, pioneiro no shape das downwind boards, como são chamadas lá fora. Sempre uso uma mochila estanque, camelbak pra hidratação, gel e chave de montagem do foil. O leash também é indispensável.

Carlos Firmeza atleta de Supfoil
Carlos na imensidão do oceano em alguma lugar no litoral cearense

QUAL A DICA QUE VOCÊ DÁ PARA OS INICIANTES NO ESPORTE?

Desde quando iniciei no kite foil e wing foil que procuro documentar compartilhando meu aprendizado por meio do perfil @foilsessions no Instagram como forma de incentivar e ajudar outros praticantes a evoluírem com base na minha experiência, sendo também uma forma de aprender trocando experiências com outros praticantes no exterior. Porém, desde o aprendizado no supfoil downwind, nada me motiva mais a compartilhar conteúdo do que a sensação durante e após um downwind de querer que mais pessoas desfrutem da mesma experiência de deslizar sobrevoando as ondulações movido apenas pela energia do oceano e pela capacidade de navegação, numa verdadeira e pura conexão com a natureza. Para isso, minha dica principal é manter a persistência ao longo do aprendizado, pois não é uma modalidade fácil. Para os experientes no foil, requer determinação pra aprender a remar do zero e o oposto vale para os remadores experientes, que precisam passar pelo aprendizado no foil, seja rebocado ou com a ajuda de uma vela, que pode levar mais tempo. Lembrar que é um esporte com evolução lenta e gradual, mas que certamente irá recompensar no futuro. Outra dica importante é iniciar com o equipamento adequado: a prancha com o máximo de comprimento (7 pés no mínimo) e volume (30 litros acima do peso em kg) e estreita de largura (máximo de 20”). Já o foil, pra facilitar o estágio inicial, quando maior a asa, mais fácil. Depois de dominado o start, requer eficiência para maximizar o glide, portanto ideal uma asa de alta relação de aspecto entre envergadura e corda (high aspect).

QUAL SUA OPINIÃO SOBRE O MOLOKABRA 2023?

É um evento único para colocar em teste todo treino e desempenho adquirido ao longo do ano, saindo da zona de conforto das condições de treino ideal para competir em condições de largada e chegada junto com centenas de competidores de todas as modalidades e níveis. A organização ao longo do ano permite também a troca de conhecimento e experiências para elevar o nível técnico e preparação para o melhor desempenho nas provas. Finalmente, a confraternização com atletas de todo o país e diferentes modalidades voltadas ao downwind fazem do Molokabra um evento de nível internacional comparável à sua referência no Havaí. A edição de 2023 foi minha primeira participação no remo (estreei em 2021 no kitefoil) e me surpreendi com o nível de fraternidade e união dos atletas. Espero chegar em 2024 em um nível acima, incentivando a categoria e a entrada de novos praticantes do sup foil. Lembrando que apenas completar a prova já é um grande desafio e conquista no foil.

Carlos Firmeza atleta de Supfoil
Carlos voando para o Cumbuco na etapa de 30 km do Moloakbra

QUAL A SUA SENSAÇÃO DE TER SIDO O PRIMEIRO CAMPEÃO BRASILEIRO DE SUP FOIL, E COMO FOI FAZER PARTE DESTA ETAPA HISTÓRICA DA CBSUP?

Sou muito grato à organização do Molokabra pela visão e pioneirismo de ter incorporado a modalidade nas inscrições do evento desde quando eu era o único praticante nos estágios iniciais do downwind. Isso me motivou a treinar na raia oficial e me colocou na vantagem para concluir as três provas em condição de liderança. O reconhecimento pela CBSUP veio depois como uma cereja do bolo, colocando o Ceará e o Brasil no páreo para as grandes competições mundiais de downwind. No final, ter sido campeão brasileiro foi consequência de todo o estudo, dedicação e treino diário na raia de casa que tem me motivado a elevar cada mais o nível da modalidade. Fico realmente honrado pelo título e espero ver novos nomes surgindo para melhorar a competitividade e o nível das próximas edições. 

Para os que querem se aventurar no SUP FOIL downwind, aviso que é um caminho sem volta. Passado o aprendizado inicial, você irá entrar no vício de surfar ondulações infinitas em condições perfeitas desafiando todo dia a si próprio em uma modalidade que é febre mundial e está apenas começando.

Alex Araujo
Alex Araujo
Alex Araújo é um dos pioneiros em criação de conteúdos esportivos na internet. Atua neste mercado desde 1996 como editor de renomados sites como CAMERASURF, SURF-REPORTER e nas revistas PARAFINA MAG e SUP MAG, e já colaborou com artigos nas Revistas Fluir, Inside,Hardcore e no Jornal Drop.
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