Entrei na Faculdade Fisioterapia, em 1995 e ouvia dos meus professores: a classe é desunida, os conselhos de Fisioterapia não fazem nada por nós e estão lá para ganhar dinheiro, os fisioterapeutas só pensam em si e falam mal dos outros e assim por diante. Confesso, é triste e ruim, ouvir que a profissão que tu escolheste para a tua vida, é assim.
No final de 1999, montamos uma entidade acadêmica de Fisioterapia, com representatividade em quase todo o Brasil. Não era uma associação, não tinha presidente e nem diretores, queríamos que fosse super democrático e todos com direitos. Foi lá que comecei a gostar da política profissional, de associações, federações e sindicatos. No RS, ajudei a fundar algumas e no Brasil, acompanhei a formação de várias. Tivemos vários retornos positivos, de professores e inclusive do Conselho Federal de Fisioterapia, que ajudamos na evolução política da profissão.
Em 2005, entrei para a Educação Física, comecei a estudar e me inteirar sobre as federações esportivas. Como funcionavam, qual a sua atuação, como organizavam os campeonatos, as tabelas esportivas e tudo mais que envolvia o esporte. E até hoje, gosto muito de acompanhar.
Não posso comentar do exterior sobre a corrupção, a desorganização, a falta de comprometimento e nem dos interesses pessoais das entidades esportivas, mas do Brasil posso, vivo aqui e acompanho na mídia. Infelizmente, no Brasil, quase todas as federações nacionais e estaduais e as associações, tem histórico de corrupção, falta de transparência política e financeira, interesses pessoais e escusos e pior de todos, com rombos financeiros que são impagáveis. Tem associações com dívidas de milhões de reais, que é melhor encerrar e abrir uma nova.
Podemos acusar e pensar em diversos culpados, mas antes disso, precisamos pensar: quantas pessoas gostariam de assumir uma entidade representativa? A resposta são sempre as mesmas: não gosto de política, não tenho tempo, trabalho demais para assumir, são todos corruptos, não vou me envolver, não sei como funciona, o meu negócio é curtir o esporte e assim por diante. Com essas opiniões, restringe a pouquíssimas pessoas, geralmente as que defendem os seus interesses pessoais e conhece as nuances dos desvios de dinheiro.
Ao mesmo tempo, nem todos estão preparados ou tem perfil para assumir uma gestão de uma associação esportiva. Na Educação Física, tem uma frase que diz assim: nem todos os atletas, tem perfil para comissão técnica. Por esse motivo, atleta é atleta e comissão técnica é comissão técnica. Temos muitos atletas muito bons, que representam bem o esporte, mas por sua personalidade forte, tem dificuldade de relacionamento em grupos, isto é, para ficar à frente de uma entidade tem que ser diplomático, bom negociador, conhecer administração, ter bons contatos com gestores públicos e privados e conhecer marketing.
No Brasil, tem uma essência que não consigo entender. Quando se monta um grupo de trabalho, começa escondido, numa turma super fechada e que ninguém pode entrar, mas podem sair. Tu se ofereces para ajudar, nem que seja distante, não pode, o grupo está fechado. Começa a sair membros, mas ninguém pode entrar, está fechado o grupo, encerram as tratativas de formação, todos abandonaram e vem o discurso: montamos um grupo de trabalho, mas todos abandonaram e desistimos. De novo, não consigo entender isso.
Depois de meses ou anos, um novo grupo resolve se unir para montar a associação ou federação. O grupo anterior, já tinha começado a montagem, já tinham CNPJ, fizeram o registro e começa a “novela mexicana” (muitas vezes, de novo): está com tal pessoa a papelada; chega na pessoa e responde que não quer saber, que não sabe de nada, fala com a outra pessoa; a outra pessoa diz que não tem interesse em conversar, nem sabe onde está tudo que foi feito. Monta a papelada, que eu assino. Assina como, se nem sabe o que foi feito. Tá bom, conseguiu montar tudo e é só assinar e nunca tem tempo para se encontrar e assinar. De novo, isso se repete em todas as associações, tanto de esporte quanto profissionais.
Montar uma entidade esportiva, gera trabalho, toma um tempo longo, envolve recursos financeiros, mas é a única forma do esporte avançar e evoluir. Adoro frases, tem outra que diz: só existe o esporte, porque existe campeonatos. Quantos campeões estaduais e nacionais, nós temos? Só pode ter um campeão nacional ou estadual, se for organizado por pela confederação ou pela federação, sim, está correto e de novo: temos campeão nacional ou estadual?
Alguns Estados, uma loja ou uma empresa organiza um evento com duração do ano inteiro, com pontuação, divulgação, patrocínio e tudo mais. E no final do ano é realizado a premiação e quem ganhou não é campeão estadual, é campeão daquele evento, na qual reuniu todos os remadores daquele Estado, disputaram ponto a ponto, posição a posição e no final, não podem ostentar título de campão estadual? Politicamente está certo, sinceramente, num país que não há coesão política, qual o problema de eu ou tu ou ele de ostentar o título de campeão estadual? Quando me questionam sobre isso, sempre digo: quando vocês conseguirem se unir e montar a federação estadual, não direi mais que sou campeão estadual, até lá, continuo sendo.
Não vou citar ou exemplificar os exemplos ruins que temos no país, temos bons gestores e entidades organizadas, precisamos nós remadores, nós atletas, sair da zona de conforto e trabalhar pela e para as associações. Temos que olhar para dentro de nós e assumir que não sou tão político para assumir um cargo na associação e também não vou ficar difamando ou falando mal de quem está a frente e tentando trabalhar, e sim, apoiar.
Para finalizar, num curso de gestão esportiva, o professor disse: não adianta ser administrador, se não entende de esporte. O ideal para assumir as entidades, são os administradores que conhecem gestão esportiva. Temos muitos remadores, com muito conhecimento administrativo, mas não serve para o nosso grupo. Não serve por quê? Ele pode trazer uma visibilidade com o seu conhecimento, que em muitos Estados, pode salvar o esporte.
Abraços,
Fabiano Bartmann
Fisioterapeuta e Profissional de Educação Física
Especialista em Administração de Empresas
Membro equipe Rabbit de SUP