“O melhor surfista é aquele que mais se diverte.”
Ditado antigo, porém perfeito.
Essa frase me levou a pensar sobre como o SUP democratizou o surfe no planeta. Antes, só surfistas e windsurfistas pegavam onda.
O INÍCIO NO SURF
Eu tive a minha primeira vez no Surfe em fevereiro de 1970! Eram pranchas maiores ou longboards. Depois de um tempo, passei para as pranchinhas. Em seguida, para as Guns, em 1985 no Hawaii. Voltei ao longboard em 2003, e iniciei, de verdade, a praticar o SUP em 2008.
CONHECENDO O SUP
Na real, conheci o Stand Up Paddle Wave em 2005, por meio de um amigo havaiano, o Joe, que estava pegando onda em Waimea Bay, no Hawaii.
Em 2007, de novo em Waimea, reencontrei esse amigo havaiano. Ele me incentivou a experimentar o Sup.
Mas, naquelas ondas, e, sendo a minha primeira vez (com um vento terral muito forte, ondas grandes e massudas), foi muito difícil. Acabei voltando para as minhas Guns.
O INÍCIO NO SUP
Depois, em 2008, ao voltar do Hawai’i, dei a sorte de estar em Itacimirim, onde foi realizado o primeiro campeonato de SUP Wave da Bahia. Resolvi competir.
No ano seguinte, em 2009, vieram as primeiras travessias na Baía de Todos os Santos, e lá estava eu.
Naquela época, tínhamos de 14 a 18 pranchas de SUP em Salvador. Hoje devemos ter, por volta, de alguns milhares…
A EVOLUÇÃO
Hoje, no SUP, temos dois tipos de praticantes: os longevos, aqueles que já eram surfistas e que incorporaram o SUP Wave (o meu caso), e os tardios, ou seja, aqueles que nunca tinham pego ondas na vida; que não eram surfistas, mas que passaram a praticar o esporte e que, atualmente, mandam muito bem.
Hoje, os SUPs dividem espaço com os surfistas numa boa.
No Brasil, em particular na Bahia, se você tem mais de 67 anos e continua surfando, você verá que a densidade demográfica dos surfistas, da sua idade, pegando onda, é mínima.
Para não dizer que é zero, provavelmente, existem mais ou menos uns 5, e você, raramente, encontrará um deles surfando no mesmo mar que você.
Mas o SUP acrescentou alguns Surfers a mais nessa brincadeira.
O AVANÇO
No entanto, tudo isso já é um grande avanço, pois quando comecei, nos anos 70, não tinha ninguém aqui em Salvador, com essa idade mais avançada, pegando onda.
O RESPEITO NO HAWAII
No Hawaii, o respeito e convívio com os longevos ou tardios e SUPers é super normal. Tanto porque lá é o berço da cultura “surf” no mundo, como também pelo fato de termos muitos atletas, em idade avançada, em muito mais modalidades de remo (e ainda em atividade!).
Certa vez, surfando no Hawaii, em Sunset Beach – já aos 62 anos de idade – na temporada 2014/2015, cheguei a surfar de Sup junto com o Unkle Brian Surrat, mais idoso e professor de Surfe, e o Kala Alexander. Ficamos brothers e acabei trazendo um SUP 9’5″ do Kala para a Bahia.
E NO BRASIL?
Aqui, no Brasil, ainda estamos nos acostumando com essa situação.
Mas já noto um grande respeito e muita admiração, dentro da água, para com os mais longevos e tardios, que praticam o SUP Wave.
É como se os mais jovens nos vissem tipo assim: “Caramba, vou chegar lá”. Se esse cara chegou, eu também posso. Esse cara sou eu amanhã.
Claro que existem ainda alguns que nos olham atravessado.
Mas a grande maioria é respeitosa e nos considera.
O CONHECIMENTO
Tem praias onde essa galera, de mais idade, já surfa há quase 50 anos. Outros, há quarenta e tantos.
Aí, nesses lugares, já somos bem conhecidos; o respeito e a amizade são naturais. Acaba que vimos todos os mais novos chegando, e eles sempre nos viram ali, surfando nesses picos.
É MAIS QUE RESPEITO, É CAMARADAGEM
Mas fiquei espantado ainda outro dia. Para minha grande surpresa, ao surfar de SUP Wave, num lugar de grande crowd, que eu já não frequentava havia uns 40 anos, o respeito, a admiração e a amizade foram enormes.
Para sermos respeitados – é lógico – precisamos tomar a dianteira, e dar o exemplo.
O incentivo, então, nesses esportes como o SUP Wave, à medida que envelhecemos e nos aproximamos dos 70 anos, surfando, é muito importante. É muito precioso que nada nos tire do mar. Essa convivência, a esse nível, nos é muito benéfica.
E O QUE REALMENTE IMPORTA?
O que mais importa é se divertir dentro d’água.
Então, não importa se você surfa de Pranchinha, Longboard, SUP Wave, Kite Surf, Foil, etc. Ou ainda se você é da primeira, da segunda ou de ‘x’ geração, ou se acabou de começar a surfar agora.
Não importa a sua idade ou a condição social. Não importa o tamanho das ondas ou por quanto tempo você surfa.
Todas as ondas são boas: surfar uma onda é muito bom em qualquer condição. O importante é estar, dentro d’água, se divertindo com a galera.
Não importa a sua condição financeira ou modalidade. O Surfe é um esporte agregador, e o Mar não faz distinção de cor. Nem de sexo (as meninas estão quebrando!). Nem de classe social, credo ou raça.
Estamos todos juntos e misturados.
Aloha ia Manuia!
Por: Kleber Batinga
Na foto de capa Laird Hamilton , que é considerado o pai do Stand up paddle na era moderna.