As habilidades necessárias para o downwind no SUP foil – Ao iniciar nessa modalidade, achei que para fazer downwinds seria suficiente apenas aprender o start, como é chamada a decolagem do foil na remada a partir do repouso na água. Como eu já havia adquirido experiência prévia em downwinds com a ajuda do wing (desligando e navegando nas ondulações sem a força da vela), achei que o processo seria relativamente simples e rápido na transição para o SUP foil. Contudo, mesmo com dedicação nos treinos, essa evolução foi lenta e gradual, sendo fundamental desenvolver algumas práticas e habilidades necessárias para alcançar o desejado conforto e eficiência da navegação, evitando assim o desgaste físico excessivo, que é o inimigo número um do downwind:
1. Paciência na escolha da vaga certa: remar para decolar o foil requer uma explosão cardiorrespiratória para adquirir velocidade acompanhando a ondulação com energia suficiente para empurrar a prancha. Para isso, deve-se aprender a escolher a ondulação certa com velocidade, angulação e direção adequadas para o start. Remar em qualquer uma irá desgastar fisicamente e dificultar ainda mais a decolagem. Essa habilidade se adquire com o tempo associando às tentativas bem sucedidas e deixando passar aquelas que não irão ser suficientes para decolar.
2. Diferenciar vaga de swell: É comum não saber a diferença entre ondulações oceânicas (swell) de ondas geradas pelo vento (vaga). Enquanto a primeira viaja grandes distâncias em maior velocidade, as vagas tem curta duração e são mais lentas, permitindo decolar na remada e acompanhar com mais facilidade. Quando há incidência de swell no downwind, é preciso atenção para manter a linha de navegação sem se aproximar muito da costa.
3. Usar sites/apps de previsão e monitoramento: Saber estimar a condição de vento, swell e mudança de maré irá facilitar a escolha do equipamento, ponto de partida e saída, além de evitar condições indesejadas ou menos propícias para o downwind para uma determinada rota. Quanto melhor o planejamento das condições de contorno para o local e horário escolhido, mais confiante e preparado estará, reduzindo riscos de insucesso e frustração.
4. Pump eficiente: Talvez essa seja a técnica mais importante no início, pois permitirá manter o foil em movimento e conectar ondulações até refinar a técnica da navegação. É ideal que se tenha essa habilidade já avançada, pois irá conservar a energia, evitando o desgaste físico que pode resultar em estolagem do foil com a perda de velocidade, sendo necessária uma nova decolagem para continuar o downwind. Saber quando não usar o pump também é importante pelo mesmo motivo, mantendo a confiança no glide da asa que se prolonga quando a asa fica na posição horizontal. Um pump exagerado, com muita amplitude de movimento, angulação e cadência incompatíveis com a asa irão resultar em um pump ineficiente, causando cansaço seguido de uma possível estolagem. Geralmente, em asas de alta relação de aspecto entre envergadura-corda (high aspect) se aplica uma cadencia alta e curta amplitude de angulação, mantendo o mais perto da horizontal e próxima da superfície. Essa técnica geralmente leva tempo até ser refinada, porém quando se encontra o sweet spot é instantâneo o ganho de velocidade e projeção durante o pump, tornando o downwind cada vez mais confortável.
5. Remada reta com j-Stroke: A remada com uma prancha de downwind se diferencia de uma Sup convencional principalmente pela base na prancha, semelhando à base do surf e apenas de um lado, permitindo conciliar a remada com o pump necessária para ativar o foil. Mas para que a prancha desenvolva velocidade em linha reta remando somente de um lado é preciso dominar a trajetória do remo na água. A remada em formato de J faz com que a resultante das forças aplicadas na água mantenha o bico da prancha alinhado na mesma direção. Isso requer prática até conseguir imprimir potência de forma automática sem bater o remo na borda.
6. Manter a altura do mastro na superfície: o downwind é uma constante busca por eficiência, mantendo o máximo de deslize (glide) do foil com a ajuda da energia da água. Essa energia está concentrada próximo da superfície e se dissipa exponencialmente com a profundidade. Por essa razão a asa deve se manter com o máximo de proximidade da superfície da água e evitando contato com o ar (ventilação). Essa habilidade deve ser dominada, pois irá facilitar o downwind quanto mais tempo se conseguir navegar com a maior parte do mastro fora da água, reduzindo o arrasto do foil.
7. Achar a velocidade de estolagem: Nem sempre se consegue navegar com velocidade, pois as vagas normalmente duram apenas alguns segundos e usar o pump sempre que sair de uma vaga irá levar rapidamente à exaustão. Assim, manter o glide sem pumpear até que surja uma próxima ondulação ao alcance é uma habilidade fundamental para seguir navegando de forma eficiente e em sintonia com o equipamento. Para isso, deve-se saber até quando é possível estender o glide em baixa velocidade na asa sem que ela estole. Isso irá dar confiança e conforto para conectar ondulações sem pressa, seguindo o flow que a condição determinar.
8. Saber regular o equipamento: Para navegar com eficiência, é preciso conhecer a fundo a prancha e o foil, sabendo exatamente sua posição do mastro no trilho e a configuração do estabilizador que irá proporcionar a melhor resposta entre lift e glide, lembrando que quanto mais lift o estabilizador gerar, menor o glide devido ao arrasto resultante da sua angulação em relação à fuselagem. Normalmente se utiliza a menor angulação que se consegue decolar com o mínimo de conforto e qualquer angulo adicional irá apenas aumentar o arrasto indesejado do conjunto. Já o mastro posicionado na frente do ideal tende a decolar a prancha antes de sua velocidade de decolagem e estolar em seguida. O contrário (mastro atrás do ideal) irá dificultar ou até mesmo impossibilitar a decolagem.
9. Posicionar os pés na prancha: Essa posição e distância entre os pés normalmente varia ao longo do downwind a depender da condição, velocidade e dinâmica do downwind. É preciso ter uma afinidade com o equipamento para saber com precisão onde pisar para se obter a melhor resposta em termos de aceleração, estabilidade, pressão e exatidão. A base durante o pump pode ser uma bem diferente da pisada durante uma cavada ou um drop. Encontrar esses locais com exatidão irá aumentar o conforto e performance do downwind.
10. Sair de uma zona morta: Até amadurecer a navegação e evitar de se posicionar em uma zona com pouca ou sem energia, é necessário saber usar os possíveis artifícios para sair dessa situação que é a mais provável causa de estolagem, além do cansaço físico. Normalmente, existem 3 formas de energia que mantêm o foil voando: a superfície água em movimento; o pump e a remada. Nessa situação, usa-se a combinação do pump com a remada até se posicionar novamente em uma próxima ondulação. Lembrando que essa técnica gera um desgaste físico em dobro e deve ser usada apenas nos casos de erro de navegação ou em condições de ondulações bem espaçadas.
11. Respirar: Por se tratar de uma atividade física de alto impacto, além da hidratação e proteção UV, manter a respiração adequada é essencial para a segurança e conforto durante o downwind. O ritmo da respiração deve ser conciliado com a dinâmica do downwind e jamais negligenciada. Exercícios de respiração podem ajudar bastante a manter um ritmo, intensidade e duração do downwind que se deseja alcançar.