Mestre do Mar – Expedições, a nova onda da canoa polinésia!

Mestre do Mar – Este ano de 2020 tem sido de inúmeras formas surpreendente. A questão do COVID 19 mudou tudo, todo o planejamento foi por água abaixo e apenas uma ou outra prova está para acontecer, mesmo assim cheio de cuidados especiais.

Imagina a cabeça dos organizadores, especialmente aqueles que tinham compromissos assumidos durante os primeiros meses do Covid? Cancelar eventos, devolver dinheiro, fazer com que os atletas entendam que todos foram afetados… Tarefa árdua!

Com as baixas das provas uma galera começa a olhar para algo que sempre foi a essência da canoa polinésia: As expedições.

O grande perigo nesse aspecto são os riscos envolvidos ao se organizar uma Expedição. É completamente diferente fazer uma remada entre amigos ou uma remada com desconhecidos. Neste caso o risco aumenta exponencialmente.

Enquanto que em uma prova sai do ponto A e volta para o ponto A, com toda a segurança, com barcos de apoio, com guarda vidas, com ambulância na areia e um grau de previsibilidade muito próximo do real, em uma travessia ou expedição tudo muda!

Tratar uma Expedição de forma comercial é um trabalho que exige muito preparo de quem está se aventurando por um mundo onde qualquer problema quem tem que resolver é na maioria das vezes uma pessoa só.

Nos primórdios da canoa, os mais ousados juntavam-se a galera do Caiaque Oceânico e então foram aprendendo as anuências e particularidades de se levar grupos para uma zona totalmente fora de sinais de telefone.

Nesta época ainda eram poucos os recursos tecnológicos disponíveis e os comandantes dessas expedições de caiaque eram estudiosos do mar, estudiosos de técnicas de fogo, de montar abrigo selvagem, entre outras habilidades necessárias para o sucesso das expedições. Eram verdadeiros homens do Mar.

Levar um grupo de pessoas que nunca remou de canoa para uma aventura de dias para locais expostos é um risco enorme. Quantas coisas podem dar errado?

O ser humano tem o poder de quando quer uma coisa visualizar apenas o êxito, e a história das grandes navegações mostra que aqueles que não levaram em consideração todos os fatores “se” falharam em seus objetivos.

Todos aqueles que pensaram com a razão e analisaram todos os fatores “se”, ainda assim, esses minimizaram os riscos, mas não os eliminaram. Não tem como no ambiente aquático eliminar todos os riscos.

Quais as habilidades necessárias para se levar um grupo para uma grande expedição?

Existem inúmeras, mas a primeira delas é saber o nível do publico alvo e daí criar um roteiro ideal para este público. Ora, uma pessoa que nunca remou não deve ir para uma travessia em mares expostos, ou aqueles que não tem familiaridade com o mar idem.

A transição é gradativa e assim que traçado as rotas de acordo com o perfil do público escolhido, vem outras habilidades necessárias.

Uma que deve ser SEMPRE a premissa básica para qualquer capitão é a possibilidade de abdicar do fim caso o meio esteja com riscos elevados. Quantos foram os que chegaram a 10, 20 metros do cume de uma montanha, mas sabiam que esses passos finais o levariam a morte?

Quando se trata de um grupo dizer não é obrigação de um bom comandante. É o piloto que arremete a aterrisagem no último milésimo de segundo afim de levar todos com vida para casa!

CASO 1: Abrolhos remando.

Era o ano de 2018 e Douglas Moura recebe o convite para ser o comandante do grupo que chegaria a Abrolhos.

Uma expectativa enorme tomava conta dos mais de 50 clientes que zarpariam dentro de poucos dias para aquela ilha que domina o pensamento dos amantes do mar!

Faltando dois dias para irem, os cálculos de Douglas começam. A estimativa feita pelos demais de chegada em Abrolhos (ETA) estava como 5 horas, contudo algo estava errado. Como assim só 5 horas? São 45 Milhas Náuticas do continente ou quase 80 km…

Não batia mesmo. Quando foi analisado o porquê dessa diferença foi constatado que a estimativa feita era em cima de 45, só que quilômetros ao invés de Milhas Náuticas (MN). Pronto, o mistério estava elucidado.

Cálculos daqui, olha vento, olha maré, olha ondulação… Conjuga todos os fatores e a conclusão: Impossível se chegar em Abrolhos ainda com luz. E aí vem a parte da notícia ruim. Ônus e Bônus do posto de tomada de decisão…

Todos foram chamados, os motivos que estavam sendo levados em consideração para a tomada de decisão expostos. Um misto de tristeza por uns, revolta por outros que se sentiam capazes (em uma viagem em grupo, o mais lento é quem é a referencia), e a decisão tomada: Não iriam, pelo menos não remando.

Tudo pago, viagem, estadia, barco… Mas na cabeça de Douglas que tem uma premissa principal de que mais importante que ir é o vir, essa decisão era irredutível. O peso seria enorme caso alguém se machucasse ou ficasse perdido naquele mundão de água!

E assim foi feito, todos foram e voltaram de barco, alguns até hoje não falam com o capitão pois entenderam que ele era medroso.

Antes um medroso vivo que um corajoso morto, ainda mais quando se trata de vidas alheias.”

Outra habilidade necessária quando se leva grupo para expedições é um conhecimento amplo das Normas, Regras, e premissas que há no mar.

Com certeza isso evita acidentes e mostra respeito e gentileza para as demais embarcações!

Ter treinamento reciclado em primeiros socorros. Imagina alguém com um ataque cardíaco e o organizador não consegue nem fazer os primeiros RCPs (ressuscitação cardio pulmonar)? A chance de perder uma vida é enorme!

Além disso, imagine ainda ter que nadar com algum afogado?

Códigos de comunicação, como um simples pedido de emergência via Morse, que pode ser feito com apitos, com um espelho bastando saber a sequencia que deva ser feito.

Uma orientação espacial acurada, conhecimento profundo de cartas náuticas, sinóticas, interpretação da atmosfera.

Radio de emergência ter e como saber se comunicar.

Existem inúmeras habilidades necessárias para singrar o mar.

Levar leigos para um local não seguro é um risco altíssimo que deve ser constantemente revisto.

E para aqueles que querem ir, procurem o histórico daquela empresa que está fornecendo o serviço, verifique a habilitação náutica de quem está organizando. Ora, um organizador de expedições que não tem por exemplo mestre amador deve se ficar dentro da área permitida. Quem não tem arrais amador por exemplo não deveria estar se aventurando a levar outros consigo.

O risco cada vez mais vai aumentar, e saber colocar a vida humana na frente do $$$ não é fácil, pois como foi falado anteriormente, o ser humano quando quer uma coisa tende a se fechar nos aspectos positivos minimizando um risco que deveria ser maximizado!

Organizar expedições não é simples, organizar expedições sem barco de apoio com leigos para locais exposto torna-se imprudência e três são os fatores que levam a um acidente: Imprudência, Imperícia e Negligencia!

Pense nisso antes de organizar uma expedição ou antes de entrar em uma expedição!

Aloha,

Douglas Moura

Capitão Amador