Mente leve, canoa leve

Quem já esteve numa canoa havaiana sabe que um misto de emoções passa pelo corpo como se fosse um flash e muitas pessoas não conseguem descrever o que sentem, mas, com muita frequência terminam uma remada em êxtase com esse misto de sentimentos prazerosos.

Ouvimos dizer lá e cá que ‘canoa é cura’. Mas, cura para quê? Cura de quê?
‘Cura’ significa a recuperação da saúde. Então, quem se sente ‘curado’ pela canoa está possivelmente retomando um estado de saúde mais pleno que pode ser reconhecido na esfera mental logo na primeira remada.

Superstição? Papo de remador para atrair novos adeptos para a canoagem? Não! Esse efeito é cientificamente explicado e, por isso, é fácil compreender de que formas a canoa atua no campo das emoções.

A saúde mental está ligada à maneira como lidamos com as emoções positivas e negativas, tanto individuais quanto nas relações coletivas e algumas questões que estão englobadas neste termo são: autoaceitação das características e dos limites pessoais; comportamento diante das circunstâncias fáceis até as mais desafiadoras da vida; resiliência e paciência perante as exigências do cotidiano.

Este tema foi negligenciado durante muito tempo, pois, a saúde mental não era discutida senão entre os profissionais da saúde. Porém, diante de tantos casos crescentes de pessoas que demonstram em grande parte da vida terem as situações sob controle e as emoções em equilíbrio, mas, que ‘de uma hora para outra’ surtam ao ponto de chegar a vias extremas para solucionar ou fugir dos problemas, este assunto tornou-se algo tão importante, estudado e disseminado internacionalmente entre profissionais e leigos que a World Federation for Mental Health (Federação Mundial de Saúde Mental) instituiu desde 1992 a data 10 de outubro como o dia mundial da saúde mental.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que a saúde mental é um componente essencial e integral da saúde e que ela não representa a ausência de enfermidades mas, um estado global de bem-estar físico, mental e social. Para a OMS, dentre os aspectos determinantes para a saúde mental encontram-se: rápida mudança social, condições estressantes de trabalho, discriminação de gênero, exclusão social, estilo de vida pouco saudável, problemas de saúde física e violações dos direitos humanos.

Sendo assim, a canoa polinésia pode atuar direta ou indiretamente em vários destes aspectos, dentre eles nas questões de discriminação e exclusão social, no estilo de vida e saúde física. A prática de exercícios físicos e esportivos proporciona o encontro coletivo e na Wa’a esse fator é primordial, uma vez que as canoas que comportam dois ou mais remadores dependem de um esforço individual para que exista um sucesso coletivo.

Essa condição de coletividade gera no praticante um sentimento de pertencimento ao grupo e se bem conduzida a prática, independente do desenvolvimento e aptidão física ou ainda do gênero, todas as pessoas podem desempenhar um papel importante e fundamental dentro da canoa, fortalecendo o sentimento de potência individual e melhora da autoestima.

Na esfera competitiva, a Wa’a também possui uma característica imprescindível para a igualdade de gêneros, que são as canoas mistas, formadas por remadores de ambos os sexos.

Assim como descrito pela OMS, a qualidade da saúde física interfere diretamente na saúde mental e por isso, um estilo de vida ativo que prevê a prática de exercícios físicos regulares e bem orientados é primordial para a manutenção de um corpo mais saudável e menos suscetível às doenças.

Não podemos ignorar o período que vivenciamos desde 2019, em que a pandemia da COVID-19 afetou a saúde mental de milhões de pessoas no mundo todo. Neste sentido, em fase de distanciamento social, as canoas individuais foram grandes aliadas na busca pela melhora da qualidade de vida. A Dra. Gisele Pasquali Peixoto, médica pediatra e remadora de Wa’a do Clube Remo Brasília, DF, contou que:

A Canoa Havaiana entrou na minha vida em meados de 2018, quando eu malhava em academia mas, estava procurando algum esporte fora das 4 paredes. Inicialmente fui em busca do remo olímpico no Clube Minas em Brasília. Mas, foi na Canoa que me encontrei! Pode ser um esporte individual mas, o que realmente me cativou foi a ‘vibe’ da galera! Fiz ótimos amigos lá e sigo com eles até hoje! A junção do contato com a natureza, ver o sol nascer (alguns dias, se pôr) e a galera sempre animada foi o que me cativou. Naquela época, eu ainda trabalhava no pronto-socorro de Pediatria, um ambiente muito estressante e desafiador, e remar me distraía e me trazia serenidade para retornar aos plantões. Com a chegada da pandemia, a paixão por esse esporte se tornou ainda mais forte. Quando o uso da canoa individual foi liberada, o lago foi o único local, fora o hospital e meu apartamento, que eu frequentava e essas remadas solitárias me ajudaram muito a conviver e lidar melhor com tudo que estava acontecendo. Por fim, além de promover uma melhor saúde cardiovascular, a canoa me trouxe um bem-estar global, que me faz sair da cama as 5h da manhã para remar. (Gisele Pasquali Peixoto – Insta: @gisagisa11 )

Segundo o depoimento da Dra. Gisele, a prática da canoa foi uma forma encontrada para diminuir o estresse e conseguir suportar melhor a pressão natural de sua profissão. Os exercícios físicos agem beneficamente sobre vários sistemas, dentre eles, principalmente no cardiorrespiratório, conforme citado no relato, musculoesquelético, endócrino entre outros. A prática de remada em canoa pode promover respostas hormonais que atuam na melhora da condição emocional e psicológica, tal como a endorfina, que ao ser liberada no organismo proporciona mais disposição física, melhora o humor causando sensação de prazer e motivação. Esses últimos aspectos são condicionantes importantes da saúde mental.

Por isso, quem já rema sabe que a canoa polinésia deixa o corpo mais saudável e a mente mais leve, isso é, as emoções mais harmonizadas, serenas e equilibradas e pode contribuir com outras pessoas, incentivando familiares, amigas e amigos a conhecerem a canoa.

Pratique esportes, pratique canoa, pratique uma mente mais leve!

Por: Nany Lima