Aconteceu de eu ter sido o escolhido, pelos meus amigos Kahuna, Roska e Clovis, para fazer o Batismo da canoa Kailani.
Assim começou minha história de realização da cerimônia de batismo das Outrigguers. Fui o primeiro a navegar, em águas baianas, nessas milenares embarcações. E persisti sozinho nos 5 primeiros anos.
A cerimônia é realizada com amigos remadores que trazem sua energia positiva, o mana, para iniciar uma canoa ou um clube, com folhas de Dracena e colares de flores, e isso eu aprendi a fazer no Hawaii na época em que vivi lá.
Faz-se um círculo; palavras positivas são ditas, e virtudes, como segurança, ecologia, amor e companheirismo, vêm à tona. Tudo com uma mistura de águas salgada e doce. O ritual é iniciado passando-se essa mistura na ama, no iakos, no palitai, nos bancos e nos convidados (que se tornam padrinhos e madrinhas presenciais).
Com uma pintura polinésia, ou maori, me transformei nesse cara que dá boas-vindas a uma nova canoa; canoa que trará muitas felicidades e aventura às pessoas de determinado grupo ou família.
É com imensa satisfação que tive a honra de batizar mais de 10 canoas de vários clubes. Os batismos demandam tempo. Tenho que coletar as flores de Jasmim, de Dracena, e tenho que obter pistas sobre como decorar a praia com frutas, tochas de fogo e folhas. Além disso, tenho que me concentrar para enunciar palavras que toquem o coração das pessoas.
Levo esse ritual a Sério, e sempre cito a Hokulea, com seu mantra, e o Malama Honua (catamarã à vela que deu a volta ao mundo, sem instrumentos, para levar o ‘aloha’ a outros povos e – também – para difundir a mensagem de salvar os oceanos, que, a cada dia, é tomado por plástico e lixo).
Somos só um oceano, global, e, a cada dia, necessitamos mais do amor do próximo. Espero que esse legado havaiano, de paz e amor, seja perpetuado para as novas gerações.
Havendo cada vez mais canoas havaianas espalhadas pelo Brasil, a cada dia, mais pessoas se lançam ao mar. Espero que elas aproveitem essas embarcações para manterem seus corpos, mentes e espíritos, livres dos males da terra. O mar ensina.
Alohaxé!
Por: Frank Faro – Capitão da Kaleopapa Canoe Club