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COVID-19: reflexões para a prática em canoa polinésia

O que eu faço se alguém que teve COVID-19 vier remar em meu clube de canoa?

Estive internado (a) com COVID-19, quando posso começar ou voltar a remar?

Tive COVID-19 e fui assintomático (a), posso fazer exercícios físicos?

Eu era atleta antes de ter COVID-19, meu treino continuará o mesmo?

Essas e outras perguntas são muito comuns atualmente e geram dúvidas tanto entre os praticantes quanto para os que ofertam e ministram atividades físicas e esportivas. Isso ocorre por causa da pandemia gerada pelo novo corona vírus, que teve início no Brasil em 2020 e se mantém ainda no ano de 2021, provocando mudanças na rotina de grande parte da população.

Todos cuidados devem ser tomados na volta da prática esportiva

O vírus SARS-CoV-2 causador da doença COVID-19, ataca principalmente os sistemas cardiorrespiratório e circulatório, manifestando-se de formas distintas nos indivíduos, que podem apresentar sintomas leves, moderados ou graves, ou ainda, algumas pessoas infectadas não apresentam nenhum sintoma.

Por se tratar de uma doença nova no mundo, os estudos recentes apresentam dados relevantes para análises e reflexões de curto prazo. Não se sabe ainda os efeitos causados a longo prazo no corpo humano porque as primeiras manifestações desta doença foram registradas em 2019 na China. Contudo, diversas áreas da saúde estão realizando pesquisas desde estão, as quais têm contribuído para o conhecimento científico das causas, sintomas, efeitos, tratamento e prevenção desta doença.

Assim, publicações científicas tais como as de: Zeng et al. (2020); Iser et al. (2020); Souza et al. (2020); França et al. (2020); Nalbandian, Sehgal e Wan (2021) e Hull, Loosemore e Schwellnus (2020) dentre outras, mostram que além de ser uma doença letal em grande parte dos casos, os efeitos registrados entre os sobreviventes são diversos e classificados de acordo com   o grau de comprometimento. Entre esses, destacam-se as sequelas no sistema cardiorrespiratório, circulatório, musculoesquelético, nervoso, endócrino, podendo inclusive acometer mais de um sistema, chamando-se assim de fatores multissistêmicos.

Estas pesquisas também apontam que os principais sintomas da COVID-19 são causados pelo ataque do vírus às funções pulmonares, provocando tosse, dispneia, produção de escarro. Outras manifestações comuns são mialgia, aperto no peito, febre, diarreia, dor de cabeça, perda de olfato e do paladar.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a COVID-19 pode ser transmitida diretamente de uma pessoa para outra por meio de pequenas gotículas emitidas pelo nariz ou boca, que se propagam quando uma pessoa com esta doença tosse, espirra ou expira. Outra forma de contaminação se dá quando essas gotas se alojam em objetos e superfícies e então, outros indivíduos tocam em algo contaminado e a seguir levam as mãos aos olhos, nariz ou boca.

Por isso, a OMS sugere que algumas das formas de diminuir a velocidade de alastramento desta doença é o distanciamento social, o uso de máscaras e higienização das mãos e de objetos após possível contato com o vírus. Como esta doença se alastrou rapidamente por quase todo o planeta gerando uma pandemia mundial, o isolamento social foi uma medida utilizada como estratégia de desacelerar a propagação do SARS-COV-2 visto que o sistema de saúde em diversos países entrou em colapso, acarretando em um número assustador de mortes por COVID-19.

Os reflexos da pandemia da COVID-19 na prática de atividades físicas

Como dito anteriormente, a pandemia mundial da COVID-19 gerou profundas mudanças na sociedade, inclusive com relação ao nível de atividade física. As pessoas diagnosticadas com essa doença são indicadas a ficar em quarentena, dentre as quais, aquelas com manifestações mais leves podem realizar o tratamento em casa, mantendo distanciamento e isolamento social. Já as que apresentam evolução aos estágios moderado e grave necessitam de internação hospitalar e muitas vezes precisam de intubação.

Por outro lado, muitos indivíduos deixaram de praticar exercícios físicos regularmente ou diminuíram o volume de atividade física por imposição do fechamento temporário de locais públicos, academias, clubes, etc. ou também por decisão própria de não se expor ao risco de contrair o vírus, permanecendo mais tempo em casa.

A Covid-19 ainda trouxe como consequência uma crise econômica em muitos países, como no Brasil, fator que obrigou as famílias a investirem seu orçamento em itens básicos (como alimentação, moradia e saúde), não deixando opção para despesas com outros produtos e serviços, como frequentar um clube ou pagar um profissional para orientação dos exercícios.

Por isso, conforme explicam França et al. (2020, p.1), “(…) nesta pandemia de COVID-19, inevitavelmente ocorre uma diminuição drástica e considerável do nível de atividade física populacional, em todos os grupos etários, inclusive em adultos jovens”.

Embora ainda estejamos vivenciando a pandemia da COVID-19, com o início da vacinação no país e a flexibilização das atividades externas, aos poucos nota-se a retomada dos exercícios físicos. Souza et al. (2020) mostram que a população está gradualmente voltando a praticar atividades por necessidade de recuperação de patologias ou como forma de prevenir algumas doenças e por isso, esse momento requer certos cuidados e acompanhamento de profissionais da área da saúde: médicos, professores de Educação Física, fisioterapeutas, psicólogos e outros.

Canoa havaiana: cuidados antes de iniciar ou retomar a prática da remada

Mesmo estando em ambiente aberto, a prática da canoa havaiana em grupo deve respeitar a norma de uso de máscara

A remada em canoa havaiana é uma prática que exige esforço físico e resistência aeróbia de moderada a intensa, mobiliza diversos músculos e articulações, requer equilíbrio, força e resistência muscular. Devido à situação apresentada sobre a mudança na rotina da prática de atividades físicas e considerando os agravantes para a saúde daqueles que tiveram COVID-19, a partir de agora algumas informações são fundamentais para garantir ao remador a melhor adequação conforme suas condições pessoais. Sendo assim, o planejamento das remadas para estas pessoas deve considerar:

1- O nível de atividade física realizada durante a pandemia;

2- Histórico de saúde pessoal;

3- Se a pessoa foi confirmada positivamente com o SARS-COV-2 e, caso positivo, identificar:

– Qual o nível de reação à doença (como sentiu os sintomas: leve, moderado, grave);

– Como foi realizado o tratamento (em casa, com internação ou com intubação);

– Quais os efeitos notados após o tratamento até o momento presente.

A partir destas informações é possível determinar se o indivíduo está apto ou não a fazer a atividade em canoa polinésia. Aquelas pessoas que não foram acometidas pela doença, mas, que durante este período de pandemia tiveram uma mudança em suas rotinas quanto à realização de exercícios físicos ou esportivos devem começar ou retomar a remada na canoa com paciência e moderação do esforço físico.

Segundo o professor Dr. Anderson Marques de Moraes, docente na Faculdade de Educação Física da PUC-Campinas, para esta retomada dos exercícios é indicada uma avaliação, feita por um profissional desta área a fim de se evitar lesões e também para maior segurança à saúde do remador. Moraes (2021) afirma que a prescrição deve ser feita com base nas características do indivíduo quanto ao seu nível de atividade física (sedentário, pouco ativo, ativo ou muito ativo) para determinação mais adequada das cargas de trabalho (volume, intensidade e densidade).

Já os indivíduos que foram acometidos pela doença, especialmente aqueles que tiveram consequências graves e ficaram internados e/ou foram entubados, demandam um acompanhamento especial, sendo inclusive necessário o envolvimento de mais de um profissional da área da saúde. Souza et al. (2020, p. 4) indica que:

Aqueles que manifestaram a forma mais grave da COVID-19, devem realizar a avaliação médica, bem como realizar teste de esforço físico antes dos exercícios. Em parceria, essas mesmas pessoas poderão dar continuidade a tarefas relacionadas às habilidades neuromotoras e funcionais por profissionais de educação física que estruturarão treinos para aquisição de algumas valências físicas, tais como: força, resistência cardiorrespiratória, velocidade, agilidade, potência, equilíbrio, entre outras.

Informação, respeito e bom senso, com isso podemos retornar com segurança as práticas da canoa em grupo

Os mesmos autores afirmam que as pessoas que tiveram a manifestação da doença de forma leve podem praticar atividades físicas com baixa intensidade no início e observando os sinais em resposta ao esforço.

Deve-se destacar ainda que para os atletas, a literatura tem mostrado casos de agravos importantes no coração como a miocardite e, no sistema circulatório, a trombose. Em geral, a maioria dos atletas necessita retornar aos treinamentos mais rapidamente e, por isso, uma maior atenção durante os exercícios e os exames (por exemplo cardiológicos) são obrigatórios.

É importante considerar que a COVID-19 é uma doença nova no planeta e não se sabe como será o efeito dela a longo prazo. O que já existe constatado e publicado em termos científicos é que a saúde de muitos indivíduos que contraem o SARS-COv-2 fica debilitada após a recuperação e requer uma atenção diferenciada.

Todos esses cuidados para a retomada da prática em canoa polinésia são reponsabilidade tanto do remador, quanto do professores/instrutor e devem fazer parte da rotina dos clubes e bases de va’a neste novo momento que estamos vivenciando.

Referências:

FRANÇA, E. F. ET AL. Triagem de saúde para participação nos programas de Exercício Físico pós-pandemia de COVID-19: Uma ação necessária e emergente ao Profissional de Educação Física, Interam. J. Med. Heal. 3 (2020) 3–6. https://doi.org/10.31005/iajmh.v3i0.144.

ISER, B. P. M. ET AL. Definição de caso suspeito da COVID-19: uma revisão narrativa dos sinais e sintomas mais frequentes entre os casos confirmados. In: Epidemiol. Serv. Saúde 29 (3) 22 Jun. 2020. https://www.scielosp.org/article/ress/2020.v29n3/e2020233/#>

NALBADIAN, A.; SEHGAL K.; WAN, E. Y. Post-acute COVID-19 syndrome. In: Nature Medicine 27. 601–615 (2021). https://www.nature.com/articles/s41591-021-01283-z

Souza, M. O ET AL. Impactos da COVID-19 na aptidão cardiorrespiratória: exercícios funcionais e atividade física, Rev. Bras. Atividade Física Saúde. 25 (2020) 1–5. https://doi.org/10.12820/rbafs.25e0171.

Por: Nany Lima

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