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Conexões entre as diversas filosofias havaianas: wa’a, hula, lua e medicina

Conexões entre as diversas filosofias havaianas – Guerreiro havaiano com remo na mão? Esta imagem representava uma realidade para os ancestrais polinésios, pois, sendo a navegação a principal maneira de deslocar entre as milhares ilhas no oceano Pacífico, o próprio remo transformava-se também em um artigo de guerra, dentre outros materiais construídos a partir de elementos da natureza disponíveis naquele período. 

Conexões entre as diversas filosofias havaianas

Não existe uma datação precisa sobre o surgimento da arte guerreira havaiana, chamada anteriormente de Ku’ialua e atualmente conhecida como Lua. Mas, é sabido que esta arte é tão antiga quanto navegar em ‘outrigger canoes’ (canoas com flutuadores), surfar ondas, dançar Hula e praticar medicina através de plantas. A forma de existir havaiana está tão intrinsecamente conectada à natureza e, por isso, fica difícil dissociar as manifestações mais expressivas desta cultura.

O mesmo homem que saía navegando em canoa para buscar alimento para sua família era também aquele que praticava a Lua em defesa de seu território e da subsistência de sua comunidade e ainda era o mesmo que dançava a Hula para contemplar, exaltar e agradecer os ‘kupus’ (antepassados) e tudo que era ‘Kapu’ (sagrado), como os deuses.

Toda prática cotidiana havaiana embasava-se nas lições deixadas de geração a geração como forma de perpetuar os preciosos conhecimentos ancestrais e também se fundamentava na observação da natureza. A chegada dos colonizadores no Havaí causou uma ruptura na estrutura sociocultural e muitas manifestações foram proibidas por causa das imposições religiosas. Dentre elas, tanto a arte guerreira Lua como as danças tradicionais Hulas Ai Kahiko deixaram de ser praticadas forçosamente.

Embora essas práticas tenham sido proibidas por um longo período, elas eram mantidas acesas na memória e no coração dos havaianos e, anos mais tarde, foram resgatadas tomando novas formas sem perder seu propósito filosófico e cultural e assim, permanecem vivas até os dias atuais, propagando-se por todo o território estadunidense e em diversos países.

Conhecendo a arte guerreira ‘Lua’

Michelle Manu, advogada por formação, é atualmente a única mulher que se tornou uma líder guerreira adquirindo o alto título de ‘kumu’ (mestre por excelência e mérito). Mundialmente conhecida e respeitada, além de praticar e ensinar esta arte, ela também é responsável por disseminar na atualidade esta tradição e considera a si mesma como uma ‘protetora’ da Lua.

Por seu trabalho ostensivo propagando a arte guerreira havaiana e por manter viva esta prática nos Estados Unidos e em outros países, Manu é considerada a pessoa mais influente na atualidade quando o assunto é Lua. Por isso, em 2016 ela ganhou destaque no Hall da Fama do Museu de História das Artes Marciais.

Sendo assim, quem poderia nos dar uma contribuição mais ampliada para compreender a Lua e sua conexão com a Wa’a do que a Kumu Michelle Manu? Neste sentido, através de entrevista concedida por ela, podemos conhecer mais sobre esta relação tão longínqua.

A Lua era uma luta mortífera e dentre seus propósitos, quebrar, luxar, asfixiar e matar eram os principais objetivos. Mas, existia um código de conduta para sua execução. Ela deveria ser usada essencialmente como defesa. Segundo Manu, “os ancestrais manifestaram a prática da Lua com grande empenho. Os guerreiros tinham um propósito e viviam sua kuleana (responsabilidade) com integridade. […] Na época dos Maoli, se alguém quisesse machucar outra pessoa, psíquica ou fisicamente, o agressor era condenado à morte. Isso porque, como sociedade, sabíamos que o dano iria se espalhar pelas gerações futuras, perturbando tudo o que era considerado sagrado”.

Na atualidade, a Kumu ensina que quando uma pessoa se torna conhecedora dos movimentos da Lua, a Kuleana obriga o praticante a controlar seu ímpeto e não fazer mau uso desta arte guerreira, porque, de outra forma seria um desrespeito e desonra aos ancestrais que cultivaram esta luta.

Wa’a, Lua, Hula, medicina – o que conecta as diversas filosofias havaianas?

Segundo a Kumu Manu, o que une as diversas práticas (que no Havaí são consideradas filosofias) é a kuleana, a reponsabilidade, respeito e ligação do homem com a natureza, em sua forma de construir objetos e produzir ações, baseados na observação e no conhecimento de elementos como: o oceano, as montanhas, os vulcões, o sol, a lua, as estrelas, os animais, etc. Para ela, a mãe Terra permanece viva desde o tempo dos maoli até as gerações atuais e assim, se dá a consagração da coexistência entre ‘humanos’ e ‘natureza’.

A medicina havaiana, expressa em forma do Lomilomi (massagem e tratamento corporal) era também guiada pela leitura e interpretação da natureza. Os movimentos da massagem e as oferendas feitas antes e depois dos tratamentos de cura eram também inspirados nas estrelas, no vento, no oceano. Os guerreiros possuíam um tratamento especial denominado Lualomi, o qual, de acordo com Manu, “é imprescindível para que um guerreiro possa ajudar a si mesmo, seus companheiros guerreiros e seus entes queridos”.

Já, a professora de danças polinésias e coordenadora da escola Hula Aloha Brasil, Verônica Elis Cabral, esclarece que “o povo havaiano é uma sociedade altamente organizada e suas filosofias são milenares e se conectam há milhares de anos (Hula, Surf, Wa’a, Stand up paddle, vela, Lomilomi, etc). Todas essas manifestações formam a estrutura atual havaiana. Quem estuda essas filosofias percebe essa conexão à medida que evolui em seu estudo. Na hula, contamos histórias antigas dos havaianos, porque a Hula é a principal transmissora da história genealógica havaiana (depois do ‘Kumu Lipo’, livro sagrado genealógico havaiano)”.

Assim vamos observando que todas as filosofias convergem em alguns pontos e são todas embasadas na mesma origem.

ENTREVISTAS CONCEDIDAS À NANY LIMA POR:

1- Michelle Manu* – Kumu Lua fundadora da Nā Koa, Inc. – @ michelle__manu / www.michellemanu.com

2- Verônica Elis Cabral – Escola Hula Aloha Brasil – @hulaalohabrasil

* Esta entrevista foi concedida por meio do contato com a escola de Danças Polinésias Hula Aloha Brasil

Por: Nany Lima.

Alex Araujo
Alex Araujo
Alex Araújo é um dos pioneiros em criação de conteúdos esportivos na internet. Atua neste mercado desde 1996 como editor de renomados sites como CAMERASURF, SURF-REPORTER e nas revistas PARAFINA MAG e SUP MAG, e já colaborou com artigos nas Revistas Fluir, Inside,Hardcore e no Jornal Drop.
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