No final do mês passado, o elevamento abrupto do nível da água no Rio São Francisco, causado pela abertura de comportas na hidrelétrica de Xingó, gerou um drama que se arrasta até hoje: o afundamento parcial da mais histórica embarcação do Baixo São Francisco, a canoa de tolda Luzitânia, que tem cerca de 100 anos — e, por isso mesmo tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como Patrimônio Histórico, dez anos atrás.
Desde então, apesar dos esforços da entidade que é dona da embarcação — e que existe apenas para preservá-la, a ONG Sociedade Canoa de Tolda —, o barco-símbolo do rio mais emblemático do Nordeste segue tombada, inundada, semi-submersa e já começando a dar sinais de encharcamento da madeira em certas partes, no município de Pão de Açúcar (AL), para desespero do carioca Carlos Eduardo Ribeiro Júnior, membro fundador da entidade, que, desde que isso aconteceu, exato um mês atrás, não tem feito outra coisa senão cobrar do Iphan o que determina a lei: que a canoa, por fazer parte do Patrimônio Histórico do país, seja retirada da situação dramática em que se encontra.
Única que restou
Hoje, um mês depois, a única canoa de tolda original que restou (assim chamada por possuir uma espécie de cabine, a “tolda”, onde eram transportadas as mercadorias no passado), continua na mesma situação, no mesmo local.
“Ela só não afundou porque ali o rio é raso e porque o casco da canoa de tolda tem flutuação positiva, ou seja, foi feito para boiar, mesmo se encher de água”, explica Carlos Eduardo.
“Mas ela não pode ficar assim por muito tempo, porque, com o tempo, a madeira e os equipamentos começam a estragar”, alerta, desconsolado.
Temos que salvar essa canoa, porque ela é histórica. Até Lampião navegou nela”
“Se a Luzitânia apodrecer no rio por falta de resgate será como se tivéssemos matado um rinoceronte branco, algo único e em extinção”, compara o ambientalista, que completa:
“O desaparecimento da última canoa de tolda será como uma amputação cultural para o Brasil”, avaliza outro especialista no assunto, o navegador Amyr Klink, que também é apaixonado pelas embarcações rudimentares do país.
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Fonte: UOL