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Relato de um perrengue: Por Bárbara Campbell,que teve sua canoa destruída por uma onda

A super campeã Bárbara Campbell conta como foi ser surpreendida por uma série de ondas que destruiu a sua canoa, Confira abaixo o que a atleta relatou para nossa colunista Danielle Chevrand:

Niterói, sexta-feira, 30 de abril de 2021. A super campeã Bárbara Campbell decidiu antecipar o longão de fim de semana em função dos compromissos que teria sábado e domingo. O objetivo era fazer uma remada de mais de 30 quilômetros em mar aberto. Encontrou o irmão, também super campeão Bruno Campbell, e os dois decidiram treinar juntos. No meio do caminho observaram que uma tempestade se aproximava e adiantaram o retorno. O mar já estava mais calmo após alguns dias da histórica ressaca que atingiu o Rio de Janeiro, gerando ondas enormes na Laje da Besta, e a previsão era boa para aquele dia. Quando passava pelo Forte do Imbuí, um dos principais Fortes de Niterói, por um canal que fica entre duas pedras, Bárbara foi surpreendida por uma série de ondas. Uma delas puxou Bárbara e a canoa para o fundo. A canoa foi jogada nas pedras e ficou destruída.

Bárbara rema há mais de 12 anos, e surfa desde a adolescência. Ainda assim, passou sufoco para sair daquela situação, e acredita que só tenha conseguido sobreviver do afogamento pela sua experiência no mar. Como remadora, Bárbara acumula títulos, como o de campeã brasileira, estadual e municipal em 2018 e 2019 como capitã da equipe de OC6 estreante do seu clube, o Soul Va’a. Também foi campeã da OC2 mista ao lado do marido Thiago Barcellos no Desafio Yacht Salvador-Morro de São Paulo em 2019. No mesmo ano foi campeã estadual com Thiago da OC2 mista, segunda colocada na OC1 Open do Kialoa Challenge – 20km e terceiro lugar geral da OC1 Open do Rei de Búzios – 17km, entre muitos outros títulos. Conversamos com Bárbara, e ela deu mais detalhes do ocorrido.

Paddle News: Você pode descrever como foi o acidente?

Imagem do Local do acidente

Bárbara: Estava voltando da Prainha de Piratininga em direção à Fortaleza de Santa Cruz. Quando passávamos pelo canalzinho entre o Forte do Imbuí e uma ilhota que tem ali surgiu uma série de ondas. Em 12 anos de treinos, passando sempre por ali, nunca vi uma série daquelas em um mar naquelas condições. A série não quebrou só na laje à esquerda, como costuma acontecer ali. Ela fechou o canal inteiro, vindo da esquerda e quebrando na pedra da direita. Fomos pegos desprevenidos. Entramos no canal conversando normalmente, já passamos ali com o mar muito maior e o que rola é uma ondulação na esquerda, que vira um backwash quem vem da direita e fica bem mexido. Mas, nesse dia, nem isso estava acontecendo. A série cresceu do nada e fechou o canal, algo inédito pra mim.

Paddle News: Você chegou a perceber que a série se aproximava?

Bárbara: Sim. Eu olhei para trás e avisei ao meu irmão da série. Ele estava uns 20 metros à frente de mim e me respondeu que estava vendo. Ele acelerou e foi embora. Eu gritei: “olha a de trás”, mas ele já estava indo na da frente. Uma segunda onda passou por mim e me jogou para as pedras da direita… vi um buraco se formar entre a pedra e a onda, mas ela passou. A terceira onda me pegou… minha canoa virou de lado, eu não tinha para onde ir, não tinha o que fazer. Então fui arremessada do “lip” da onda para baixo dela…entre ela e as pedras. Como eu sou mais pesada que a canoa fui jogada para o fundo, bem fundo mesmo e a canoa foi arremessada nas pedras. Subi segurando meu remo e deu tempo só de gritar pelo meu irmão. Então, outra onda me pegou e me jogou outra vez para o fundo. Quando estamos perto de pedra, a “vaca” é mais profunda porque a pedra faz tipo um vácuo e te puxa para baixo. Com o meu preparo físico e conhecimento de mar, que surfei durante anos na minha vida, eu sabia como agir naquela situação. Eu já estava soltando o camelback quando vi meu irmão chegar, então dei a pochete para ele, o remo também e comecei a nadar em direção à minha canoa, que estava nas pedras. Meu irmão me impediu e disse que eu não estava saindo do lugar e sim sendo puxada para um lugar pior. Foi então que comecei a obedecer sos comando dele.

Barbara carrega uma grande experiência com mais de 12 anos de prática na canoa havaiana

Paddle News: Você estava com todos os seus equipamentos de segurança? Qual foi o mais importante?

Bárbara: Estava com todos os equipamentos de segurança. Não consigo avaliar qual equipamento me ajudou não. Meu colete era apenas um flutuador, então não me fez boiar não. E a bolsa (pochete) do camelback me afundou mais, fazendo peso com a água que entrou nela.

Paddle News: Seu irmão foi fundamental no seu resgate. Já parou para pensar o que teria acontecido se você não estivesse com ele?

Bárbara: Foi muita sorte mesmo estar com o Bruno por perto. Já passamos muitos por momentos de aventura juntos, muitos mesmo, mas eu fiquei muito nervosa com o fato de a minha canoa ter quebrado. Meu impulso foi ir atrás dela, nas pedras. Bruno me deu um esporro e não deixou eu fazer isso, me conduzindo no que deveria fazer naquela situação, até porque ele já tinha visto que a canoa estava toda quebrada. Mas, na adrenalina, eu achei que dava para resgatar.

Paddle News: No momento do resgate, vocês contaram com a ajuda dos marinheiros do Forte do Imbuí. Como foi esse apoio?

Bárbara: Eles foram ótimos. Eu pedi para resgataram a minha canoa e prontamente foram pedir permissão para o sargento, que autorizou na hora. Eu pedi para ir junto no bote. Eu e mais quatro marinheiros fomos resgatar a canoa. Só aí que eu tive noção do estrago. Minha Gopro caiu no mar, o suporte quebrou com o impacto e colocamos a canoa no bote, com dificuldade. Seria impossível eu resgatar ela nadando. Meu irmão foi muito correto na decisão de me tirar dali. Ele já tinha resgatado alguns pertences meus na canoa, antes do bote: o Garmin e o saco estanque, que estava com meu celular.

Barbara usou de toda sua experiência no mar para sair ilesa da situação

Paddle News: Como ficou a canoa?

Bárbara: Estraçalhada. Quebrou em algumas partes e as partes ficaram rachadas. Essa foi a parte mais triste desse acidente.

Paddle News: Você já disputou provas desafiadoras como o Rei de Búzios. Já enfrentou alguma outra situação parecida com essa antes?

Bárbara: Já passei muitos momentos de mar grande, muito mexido, mas nenhum perrengue real como esse, de perder equipamento e ficar à deriva assim. Em prova, você sabe que tem equipe de resgate, barco de apoio, mas, quando está treinando, é você com você mesma. Foi bem diferente de uma prova.

Paddle News: Que conselho você dá para que outros remadores, principalmente os iniciantes no esporte, não vivam situações como esta?

Bárbara: Atenção redobrada, porque quanto mais seguro de si você está, mais você se arrisca. Então, tem sempre que estar preparado física e mentalmente para encarar essas situações. Eu não estava me arriscando, surfando… eu estava passando por um lugar familiar para mim, num dia de mar mexidinho, nada demais, e aconteceu isso. Além do respeito pelo mar, você precisa saber sair de situações de risco, antes de se colocar à prova. Além de todos os equipamentos necessários, é fundamental avisar aos conhecidos e familiares para onde você está indo.

No Perfil abaixo, vocês podem ver o depoimento da atleta:

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